No Dia Mundial da Água, copo meio cheio e meio vazio

Os aspectos negativos e positivos desse panorama, como a incorporação de soluções de digitalização

Desde 1993, o mundo celebra o Dia Mundial da Água em 22 de março. No ano anterior, a Organização das Nações Unidas havia apresentado a Declaração Universal dos Direitos da Água, com uma série de informações que chamavam a atenção para a urgência em se refletir sobre o uso da água. Quase trinta anos se passaram e o tema cresceu enquanto desafio para toda a sociedade.

Na verdade, a consciência sobre o tema já contava com pelo menos duas décadas de construção. No início dos anos 1970, durante a Conferência de Estocolmo, começou a se desconstruir a ideia de que a natureza ofereceria seus recursos de forma indefinida à sociedade. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ligou o sinal de alerta para o mundo todo.

No Brasil, em 1988, a Constituição Federal estabeleceu que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e que cabe ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Vários anos depois, em 2007, a Lei do Saneamento Básico previu a universalização do abastecimento de água e do tratamento da rede de esgoto.

O aspecto sombrio dessa reflexão é perceber que mais de trinta anos se passaram desde a promulgação da Constituição e quase uma década e meia da Lei do Saneamento Básico e, ainda, uma parcela significativa da população brasileira está à margem desses direitos. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), quase 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada e cerca de 46% do esgoto gerado no País não é tratado, com os consequentes impactos na saúde da nossa população.

Mas, se há um lado preocupante nesse panorama, também há aspectos positivos a serem avaliados. Segundo dados das Nações Unidas, o Brasil é o país com a maior reserva de água doce do mundo com uma grande diferença com o segundo (Rússia) e o terceiro (Canadá) colocados. Esta posição ganha ainda mais relevância quando se observam as dimensões dos três países, já que tanto Rússia quanto Canadá dispõem de áreas territoriais maiores que a do Brasil.

A maior parte desse grande volume de água, no entanto, está concentrada na região amazônica (cerca de 70%). A Região Sudeste, que abriga quase 45% da população, dispõe apenas de 6% das reservas aquíferas do Brasil. Outra situação paradoxal está na questão do tratamento de efluentes: a mesma região amazônica que concentra 70% da água doce tem apenas 10% de esgoto tratado.

Esse panorama desigual em muitas dimensões torna necessárias - e de forma imediata - medidas que ampliem a eficiência do sistema de distribuição e de tratamento de água no Brasil. Um passo decisivo foi dado com a aprovação do Marco Regulatório do Saneamento, que estabelece objetivos audaciosos, como 99% da população brasileira com água potável em casa até dezembro de 2033 e 90% da população com coleta e tratamento de esgoto até a mesma data. O documento também prevê ações para mitigar o desperdício de água e para o aproveitamento de água das chuvas.

Ao incluir o investimento privado no setor, permitindo sua participação em licitações, o marco regulatório do saneamento deve contribuir para acelerar novos projetos no segmento. Além dessa inclusão, a nova regra também estabelece metas de produtividade e penalidades relativas ao não cumprimento desses objetivos para as empresas vencedoras das licitações. O setor de água e de saneamento, portanto, vai precisar investir em sistemas eficientes, a fim de garantir viabilidade econômica para os novos empreendimentos.

A tecnologia pode ser uma valiosa aliada nesse novo panorama. A incorporação de soluções de digitalização tem o potencial de ampliar a transparência dos sistemas de fornecimento e tratamento de água. Mapeamento do abastecimento e do consumo de água, diagnóstico remoto dos equipamentos das redes de distribuição, predição e manutenção precoce de ativos do setor, tudo isso guiado por algoritmos, podem e devem incrementar fortemente a eficiência do segmento.

A automação do setor também se apresenta como instrumento de grande potencial, assim como as soluções para aumento da eficiência energética, por exemplo, com a incorporação de inversores de frequência nos sistemas de distribuição de água e de tratamento de esgoto. Energia, por sinal, é um capítulo de extrema importância para o segmento, com a utilização de soluções de distribuição de energia que sejam, ao mesmo tempo, mais eficientes e ambientalmente adequadas.

Não basta termos a maior reserva de água doce do mundo se não fizermos mudanças urgentes. Cabe a nós brasileiros - cidadãos, empresas, governo, instituições, ONGs - sermos protagonistas dessa transformação. Temos 12 anos de trabalho pela frente, esses são anos de compromisso com a saúde do nosso povo e do nosso meio ambiente, uma pauta fundamental e prioritária que deve nos inspirar para persistir até atingir o objetivo proposto.

Pablo Fava é CEO da Siemens

Foto: Divulgação

Envie os nossos conteúdos por e-mail. Utilize o formulário abaixo e compartilhe os link deste conteúdo com outros profissionais. Aproveite e escreve uma mensagem bacana.

Faça uma busca

Mais lidas da semana

Operações

Carregamento de veículos elétricos em condomínios divide opiniões

Como equilibrar os custos e as preocupações dos condôminos de forma justa e transparente. Leia artigo exclusivo.

Carreira

Fábio Pace Adamo assume Real Estate Management da Volvo

Com mais de 20 anos de experiência, profissional assume gestão em nível nacional.

Mercado

Soluções de economia de água com o fim do desconto da Sabesp

Tecnologias e estratégias inovadoras tornam sustentável o consumo de água.

Workplace

Pinterest transforma escritório em oportunidade de novos negócios

Daiane Silva, Workplace Manager da multinacional, fala sobre gestão focada em clientes externos e cultura flexível.

Sugestões da Redação

Revista InfraFM

Diversidade de ideias no 10º Fórum InfraFM Hospitais & Ambientes de Saúde

Evento abordou sustentabilidade, cases de sucesso, otimização de gestão e outros temas em voga no setor.

Revista InfraFM

Guardiões do movimento

Assegurando o bem-estar dos colaboradores ao longo dos 14 mil quilômetros de ferrovias, que cortam nove estados brasileiros.

Revista InfraFM

Oportunidades e inovações no World Workplace 2024 da IFMA

Transformando o setor de FM com foco em tecnologia e sustentabilidade

Operações

Monitoramento em tempo real otimiza produção em 18% na Visteon Amazonas

Ricardo Tanko Vasconcellos, Quality Manager da multinacional, fala sobre importância da sinergia entre áreas para um processo contínuo de melhorias.

Operações

Retrofit gera mais de R$3 milhões de economia para operação de shopping

Gerente de operações do Shopping Praça da Moça e coordenador de Operações do Grupo AD falam sobre desafios e resultados das implementações.

 
Dúvidas sobre os EVENTOS?
Fale com a nossa equipe pelo WhatsAPP