Por Mauricio Almendro* e Renato Rosseto**
Desde a criação dos primeiros hospitais europeus, no século XVIII, o edifício hospitalar vem sofrendo alterações de projeto que acompanham a evolução das necessidades dos pacientes e as inovações científicas. Inicialmente, com estrutura em pavilhões horizontais, evoluíram para o uso da ventilação e iluminação natural como forma de combate à infecção. A dificuldade com o deslocamento e a pressão por redução da área ocupada trouxeram um novo formato para hospitais em torres, que após a metade do Século XX, evoluíram para uma base multifuncional com torre geralmente reservada para a internação.
Os hospitais mais modernos incorporam novos conceitos em seus projetos que incluem ambientação, hotelaria, equipes multidisciplinares e a constante transformação dos espaços. Atualmente, os edifícios hospitalares são de alta complexidade, não somente no sentido das interações e interferências diárias, bem como nas incertezas e indeterminações que envolvem essa operação.
Os primeiros registros sobre prevenção contra incêndios em hospitais são dos anos 1930, mas o debate somente se intensificou nas últimas décadas, com a aceitação da criticidade deste assunto, a evolução da tecnologia, a legislação vigente e a incorporação do assunto pela arquitetura hospitalar. A dificuldade de locomoção interna dos pacientes, os diversos materiais inflamáveis utilizados em hospitais e a existência de instalações de alto risco de incêndio, como geradores ou entradas de energia, somados a uma operação que roda 24 horas, fazem com que todas as atenções sejam voltadas para esse risco iminente e geralmente não considerado com a devida importância.
A legislação existente é bastante ampla e configura uma grande ferramenta para os hospitais reduzirem ao máximo o risco de incêndio. Os principais problemas para sua aplicação são a dificuldade na formação da brigada de incêndio, que demanda a mobilização de um contingente muito grande de colaboradores para treinamento externo e o alto investimento para correção e adaptação de todas as exigências normativas, já que temos uma parcela muito grande de edifícios hospitalares antigos e desatualizados.
O Corpo de Bombeiros de cada Estado possui instruções técnicas próprias e tem contribuído muito para o assunto com uma maior frequência de vistorias aos hospitais e exigência das correções necessárias. Existem muitas empresas e especialistas que também oferecem consultorias e auditorias para os sistemas de combate a incêndio, mas deve se ficar muito atento às referências e qualidade desses profissionais. Tem-se também diversas metodologias para avaliação e implementação de um plano eficaz de combate a incêndio e cada hospital deve analisar qual a melhor opção de custo/benefício. Um modelo baseado na metodologia PDCA, pode ser aplicado para esse processo, tendo em vista o caráter pedagógico do planejamento tanto para a alta direção do estabelecimento, como para os níveis operacionais de execução.
O princípio de incêndio em uma edificação coloca em risco tanto a estrutura física como a vida de seus ocupantes. Isso indica a necessidade de se promover e reforçar práticas seguras de trabalho, de proporcionar ambientes livres de riscos, de controlar materiais e equipamentos contra a eventualidade de um princípio de incêndio, de sinalização clara das saídas de emergência e treinamento dos profissionais de saúde para uso dos equipamentos de combate a incêndio. De nada adiantam equipamentos sofisticados de prevenção contra incêndio, se não houver pessoas treinadas e capacitadas, para agir de maneira rápida e segura. Cada atraso pode ser determinante no desfecho, pois a ação precoce é mais efetiva que as evacuações.
*Mauricio Almendro é Diretor de Operações na área da Saúde.
**Renato Rosseto é Diretor de Riscos e Qualidade.
Ambos são Executivos no Grupo Verzani & Sandrini.