3º Fórum InfraFM Indústrias
 

Quando a regra é enxergar sempre o "copo cheio"

Movido a desafios, Fernando Gorguet explica por que é nas épocas mais difíceis que os profissionais de Workplace podem e devem demonstrar suas mais importantes habilidades

Por Léa Lobo

Com 22 anos de experiência na área de Facilities Management e Corporate Real Estate, Fernando Gorguet já fez de tudo um pouco na profissão. Com trajetória construída em ambientes multinacionais, ele pôde comprovar seu perfil arrojado e sua vocação para a liderança que o fizeram acumular vasta experiência no startup de novos projetos de companhias de diversos segmentos pelas quais passou.

Além disso, podemos dizer que se trata de um Executivo que prefere ver sempre o “copo cheio”. Como ele mesmo diz, “é em épocas de crise que os profissionais de Workplace têm de demonstrar suas mais importantes skills, como gerar valor ao negócio”.

No bate-papo a seguir, Gorguet compartilha seus principais desafios à frente da Diretoria de Workplace Services para América Latina na Unilever, onde incorporar a mentalidade de excelência de serviço e melhorar o serviço contínuo são alguns dos principais focos da área.

Como foi chegar até a atual posição?

Sou graduado em Economia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), com pós-graduação em Administração pela Fundação Getulio Vargas e trajetória profissional construída em ambientes multinacionais. Minha carreira teve início no Rio de Janeiro na área de comércio exterior para uma indústria britânica de importação e exportação. Depois, tive a oportunidade de ir para a AT&T – minha primeira experiência com Facilities Management. Lá fiquei um ano até migrar para a Lucent Technologies, quando me mudei para São Paulo. Foram cinco anos e muitas experiências em Compras e FM. Na sequência, ingressei na Vésper com a missão de gerenciar o startup dos departamentos de Real Estate, Facilities, Relações Governamentais, Segurança Corporativa e Segurança da Informação. Também tive passagens sólidas pelo Semco Partners, onde ajudei a formatar a Semco Manutenção Volante (SMV), e depois pelo Banco Santander na gestão de Facilities e Manutenção. Saí de lá em 2006 para assumir como Workplace Management Manager da Nokia, que um ano mais tarde viraria a Nokia-Siemens Network, onde respondia como Head Workplace Management & Environmental Solutions para América Latina. Antes da Unilever, onde estou atualmente como Diretor de Workplace Services para América Latina, tive ainda a oportunidade de trabalhar como Diretor-executivo de Facilities e Sistemas Críticos – Real Estate no J.P. Morgan. Alguns projetos me deram muito orgulho e realização profissional. Tive também o prazer de treinar e trabalhar com profissionais fantásticos e ter uma boa equipe faz toda a diferença.

Quais características do seu perfil têm feito a diferença no cargo?

O profissional de FM tem de primeiramente gostar do que faz. Tem que ter claro um planejamento de carreira e saber quais são os caminhos de crescimento. O domínio do idioma inglês e espanhol é absolutamente um diferencial de mercado, principalmente nesse momento em que a globalização nas grandes empresas já é realidade. Eu particularmente tive oportunidade de trabalhar em vários segmentos e isso te abre muito a cabeça. Em minha opinião, é um diferencial de carreira e me ajudou a crescer até a minha posição atual. A dica é foco em planejamento de carreira, networking, idiomas e, se possível, diversificar os ambientes de trabalho.

Em sua trajetória, aconteceu um movimento de contramão, certo? Valeu a pena?

É verdade. Após alguns anos, e já ocupando posições de diretoria no Brasil, tive de tomar uma decisão estratégica que foi dar um passo atrás, aceitar uma posição gerencial sênior na Nokia e atuar na América Latina. Foi para mim uma decisão fundamental para ganhar experiência regional e então subir novamente e chegar a uma diretoria Latam. Percebi naquele momento que seria a melhor jogada de carreira e a aposta deu certo. O profissional de FM tem de ser ambicioso, criar alianças, ser um político, gerar um forte networking. Afinal, é nele que sua carreira vai decolar; pelo menos a minha carreira foi desenhada pelo networking que desenvolvi ao longo desses anos no mercado.

Qual é o pilar do seu modelo de gestão/liderança? 

Brinco muito com todos da minha equipe que desenvolvi a “Gestão É Nóis”. É com esse espírito alegre, de forte integração, respeito e admiração pelas pessoas que tive e venho tendo sucesso por onde passei. Particularmente gosto de inovação, trabalhar em projetos que fogem do tradicional, em busca de transformar a vida das pessoas nas empresas. Tenho alguns exemplos que guardo como verdadeiros troféus de carreira e me sinto muito orgulhoso por isso. Claro que os resultados não vêm sozinhos e muito menos são feitos individualmente. É sempre o resultado de uma gestão eficiente, com muita alegria e descontração. Sinto que consegui deixar minha marca pelas empresas em que trabalhei. Costumo dizer que se estivesse com budget para construir uma nova operação no Brasil, traria muitos profissionais com os quais tive o prazer de trabalhar. Esse reconhecimento é, para mim, minha maior conquista profissional.

Como trabalha metas com sua equipe?

O mundo está em transformação e a forma de trabalho, também. Em empresas globalizadas, as metas anuais são claramente divulgadas e todos devem ter a responsabilidade de executá-las. Uma equipe integrada e focada é o ponto de partida para que os resultados sejam atingidos. Tudo depende de uma gestão adequada e dos recursos para que se possa chegar nos resultados. Normalmente, as metas fazem parte de um conjunto de atividades que envolvem diversas áreas e regiões. Assim, o sucesso está na gestão adequada dos recursos e em uma comunicação aberta e participativa.

Em sua atual posição, quais são as principais responsabilidades? Como é formada e quantos compõem a equipe?

Possuo o portfólio completo de um profissional de FM e Real Estate. A equipe é bem reduzida, sendo um gerente para cada sub-região (Brasil, América Central e México/Caribe). Além disso, existe um PMO (Project Management Office) regional dedicado e um Gerente Regional de Real Estate. Para cada país temos uma equipe enxuta e dedicada que atende fábricas e escritórios. O nosso portfólio é muito grande, o que torna o dia a dia muito desafiador.

É um erro considerar que a geografia é o que mais afeta as operações da Unilever, levando em conta que as fábricas e escritórios estão espalhados pelas diversas regiões?

Se considerarmos as operações de Facility Management e Real Estate, o que mais nos afeta é estarmos inseridos em uma região, onde na maioria dos países em que atuamos, a qual não podemos contar com parceiros únicos que nos trariam uma maior eficiência operacional. A maioria das grandes multinacionais de gestão de FM não possui presença legal e isso afeta os projetos de integração de nossas operações.

Quais seriam os pontos/desafios que mais interferem nessa gestão em se tratando da logística de atuação?

Uma gestão regional é sempre mais complexa, pois envolvem grandes distâncias, fusos e diversidade cultural. Outro ponto crucial é a comunicação pelos três idiomas: ainda é complicado encontrar no mercado profissionais de FM que sejam bilíngues dentro da América Latina.

Como é o seu dia a dia? Você viaja bastante para conseguir “abraçar” um portfólio de serviços demandados pelos sites em tantas cidades distintas?

Com as diversas ferramentas tecnológicas que nos são disponibilizadas as viagens não são tão imprescindíveis. Os orçamentos de viagens estão cada dia mais restritos já que houve um grande investimento em tecnologia de ponta que facilita o contato no dia a dia com qualquer funcionário.

Onde as pessoas mais erram? No planejamento ou na execução?

Acho que um planejamento mal feito gera uma sequência de problemas. Em uma empresa grande como a Unilever, os processos são muito detalhados e gastamos muito tempo discutindo com as equipes de trabalho na região e fora, a metodologia de execução e os controles que serão necessários. É preciso garantir que a execução seja adequada e dentro das normas de governança estabelecidas. Para isso, temos um gerente de projetos dedicado para cada região no mundo que nos auxilia nos principais projetos em Latam.

A inovação também acontece quando puxamos o conhecimento externo (fazendo uso de treinamentos) e o colocamos em prática. Você concorda?

Possuímos uma central de treinamento on-line chamada “Unilever Learning Hub”, por meio da qual recebemos diversos treinamentos, além de outros diversos oferecidos pelas demais áreas, como parte do constante processo de evolução da empresa.

Como os contratos terceirizados estão segmentados? E quais os maiores desafios?

Trabalhamos com contratos terceirizados dentro de um escopo padrão de serviços de FM. O desafio é sempre a busca por qualidade x preço x eficiência. Com o momento atual de crise financeira, estamos buscando revisar os contratos atuais e adaptá-los a nossa realidade. Trabalhamos para o negócio e somos sempre medidos com metas bem definidas que nos obrigam a ser sempre bem criativos. Acredito que a crise atual será um bom divisor de águas para os anos futuros: todos estão olhando para seus custos e avaliando a melhor forma de realizar a gestão de seus gastos. Temos que cuidar bem do dinheiro da empresa e garantir as melhores margens para o negócio local.

Está com alguma contratação de serviços terceirizados em andamento?

A nossa área está sempre de olho na otimização da operação, o que nos leva, naturalmente, a buscar junto aos parceiros uma adequação à nova realidade de mercado. Realizamos constantemente benchmarks internos e externos, visando uma adequação de recursos e níveis de serviço que atenda às necessidades do negócio. Cada unidade fabril possui seu próprio P&L (demonstração de lucros e perdas). Portanto, temos um desafio de gestão incrível no nosso dia a dia.

Você concorda que reduzir m2 é uma estratégia eficaz para reduzir custos de serviços?

Redução de m2 tem de estar atrelado a um bom planejamento dos espaços. O mundo está cada vez mais conectado e diversas empresas oferecem a seus funcionários opções alternativas, como o home office. Tudo deve ser levado em conta para o melhor aproveitamento dos espaços. A conta de aluguel é sempre a mais alta e o profissional de Workplace / Facilities deve estar sempre em busca de melhores alternativas para o negócio. Com a crise no mercado brasileiro, estamos vivenciando um bom momento para movimentações. Com um bom planejamento os resultados podem ser expressivos.

Quais são, então, os pontos cruciais a serem observados de olho em um workplace adequado à atração e à manutenção dos talentos, alinhado à cultura organizacional da Unilever?

A Unilever tem essa preocupação em todos os seus escritórios no mundo. Temos um guideline global sobre design que está sempre sendo atualizado, uma vez que temos que acompanhar as mudanças comportamentais e os avanços tecnológicos cada dia mais presentes no nosso dia a dia. Estamos vivenciando um momento de transformação. Um exemplo é que já estamos eliminando os telefones fixos de alguns escritórios na Europa. Seria isso possível no passado? Estamos caminhando para um novo conceito de gestão e a vantagem de sermos globalizados nos dá acesso às mudanças assim que elas ocorrem em qualquer parte do mundo.

De que maneira sua área tem sido impactada pelo cenário econômico e político atual? 

Como qualquer empresa de bens de consumo, o momento é bastante oportuno para uma reflexão em todas as linhas de serviço que gerenciamos. A Unilever está em um processo amplo de avaliação de seus custos e a área de Workplace Services tem um papel importante para os resultados do negócio. Estamos com um foco muito específico em custos, na otimização de nossas rotinas administrativas e operacionais, avaliando inclusive com os nossos parceiros estratégicos caminhos alternativos para tornar a área ainda mais competitiva em nossos escritórios e fábricas em toda a América Latina. É importante ressaltar que a área de Workplace da Unilever é globalizada e possui uma governança bastante efetiva e controles cada dia mais eficientes para ser capaz de gerar total transparência de nossas ações para as linhas de negócio. A palavra savings é atualmente a mais ouvida por aqui e estamos sendo minuciosos em nossos projetos para manter o negócio com margens elevadas. Temos que agregar valor sempre.

Para fecharmos, deixe um recado para profissionais que atuam no mercado de FM.

É em épocas de crise que os profissionais de Workplace têm que demonstrar suas mais importantes skills: o de gerar valor ao negócio. Aproveite o momento para repensar na forma como vocês estão gerenciando seu portfólio. Sempre existem oportunidades, pois as áreas de conforto nos levam a uma estagnação. Projetos como o ZBB (Zero-Base Budgeting) são apenas um exemplo para reflexão. Desafie suas equipes a pensar fora da caixa, provoque o negócio a rever os atuais KPI’s e níveis de serviço, avalie o mercado imobiliário. Afinal, é na crise que podemos nos beneficiar e conquistar ótimas negociações.

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