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Inovar no setor público é possível

Arquitetura institucional de inovação ainda tem um longo trajeto a construir e percorrer

Por Israel Macedo

A cultura é um caminho que se constrói enquanto se caminha, assim definiu o sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman em "Ensaios sobre o Conceito de Cultura". O polonês discorre em seu livro sobre como transformar a cultura é um processo lento, gradual e complexo, repleto de percalços e surpresas. Quando falamos sobre cultura de inovação no Brasil, é disso que se trata: temos um longo trajeto a construir e percorrer. Apesar de ter dado início à construção de uma arquitetura institucional de inovação em 1950, essa cultura ainda não é uma realidade no País, especialmente na gestão pública. 

Para inovar no setor público, os desafios são ainda maiores. Afinal, os gestores precisam transitar entre diferentes esferas administrativas, jurídicas e sociais. A complexidade é tal que há necessidade de leis e normas que embasem as decisões por soluções inovadoras. Esse arcabouço jurídico, que respalda ações no campo público, não anda na mesma velocidade que a inovação. Ou seja, no âmbito público não há a mesma liberdade para a experimentação encontrada na academia ou no setor privado. 

Os países desenvolvidos investem em inovação em todos os seus setores. No que concerne ao setor público, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que, ao se ativar a parceria entre governo e cidadãos, é possível encontrar novas formas de impactar a vida da sociedade e, assim, adotar abordagens que modelem o futuro. Mas, para isso, é preciso experimentar novos modelos, dinâmicas, procedimentos, tecnologias e ideias. 

Foi diante deste cenário que iniciamos uma empreitada para fazer com que a gestão pública se torne referência em inovação no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo. Presente em todos 645 municípios paulistas, a atribuição primordial do Crea-SP é fiscalizar o exercício profissional de 350 mil profissionais e 95 mil empresas em todo o Estado. Uma missão que, para ser bem-sucedida, deve estar amparada em processos ágeis, eficientes e colaborativos. 

Pela primeira vez na história da autarquia, o Conselho reuniu os principais impactados pela sua rotina de trabalho para debater ideias e encontrar novas saídas para problemas em comum. Deste formato, que chamamos de inovação aberta, surgiram iniciativas já implementadas e que se provaram relevantes, caso da carteira profissional digital, do chatbot Minerva, do novo site e do portal de serviços, além da digitalização de 100% dos nossos processos.

Paralelamente a essas entregas, o Crea-SP avançou em direção a outras áreas importantes, como a capacitação profissional, disponibilizando um ambiente de ensino para os profissionais se atualizarem com cursos híbridos em parceria com renomadas instituições de ensino, o Crea-SP Capacita. E foi além ao criar o CreaLab, plataforma que pretende mapear ideias e conectar pessoas, organizações, universidades e grandes empresas para resolução ágil de desafios complexos da área tecnológica. A ideia é que o Crea-SP seja um propulsor da evolução das Engenharias, Agronomia e Geociências, participando ativamente da estruturação dessas profissões para o futuro. 

Uma mudança cultural só ocorre quando as pessoas a assimilam e a reproduzem no seu dia a dia. A inovação do setor público acontece quando as pessoas se tornam agentes da transformação com o comprometimento de gerar valor público para os cidadãos. Com inclusão, diversidade e estímulo ao envolvimento, a inovação pode acontecer na administração pública e o Crea-SP é prova disso.

Israel Macedo, superintendente de Tecnologia e Inovação do Crea-SP.

Foto: Divulgação.

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