Black Friday - Congresso 2025
 

Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas

Entenda a importância da COP 26 para o Brasil e o setor privado

Por João Guilherme Sabino Ometto*

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a ser realizada em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro deste ano, terá dois focos prioritários. O primeiro, relativo ao financiamento e às indenizações por perdas, interessa mais aos países pobres e aos insulares. O segundo é a conclusão da implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris (o que significaria, na prática, o início operacional do tratado), referente à forma de contabilidade e cooperação entre nações em transações internacionais de carbono e o regramento do novo Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (MDS), que substitui o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), inerente ao Protocolo de Kyoto. Para o Brasil, principalmente a indústria, será importante que os créditos de carbono gerados por meio do MDL sejam considerados quando entrar em vigor o MDS.

A COP 26, portanto, terá grande relevância para o setor privado, pois, em médio e em longo prazo, a competitividade dos negócios será influenciada por suas decisões. Ademais, o conceito de ESG (sigla do inglês para Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa) torna-se cada vez mais decisivo para nortear investimentos e a decisão dos consumidores e delinear a reputação das empresas. Também cabe atenção aos financiamento, às recentes tecnologias e à adaptação às mudanças climáticas, lembrando que, em nosso país, já ocorrem perdas econômicas decorrentes de secas extremas, como neste momento de crise hídrica, ou chuvas muito acima do normal.

A Conferência de Glasgow, se exitosa, poderá somar-se às mais marcantes dessa agenda iniciada em 1983, quando, por decisão da 38º Assembleia Geral da ONU, foi criada a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Em 1992, no Rio de Janeiro, ocorreu a Cúpula da Terra (Rio-92), na qual surgiram a Agenda 21 e dois grandes acordos internacionais: Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima; e Convenção sobre Diversidade Biológica. Na ocasião, as nações assumiram compromissos para reduzir emissões de gases de efeito estufa e criar mecanismos de adaptação às mudanças climáticas.

A partir de 1995, instalaram-se as COPs. Dentre estas, as que tiveram maior relevância foram: 3, no Japão, em 1997, quando se firmou o Protocolo de Kyoto, que vigorou de 2008 até 2012; 13, em Bali, na Indonésia, em 2007, na qual se adotou o Bali Road Map, que definiu os cinco temas estratégicos das negociações ("Visão Compartilhada", "Mitigação", "Adaptação", "Tecnologia" e "Financiamento"); 15, em Copenhagen, na Dinamarca, em 2009, na qual se abordaram o apoio tecnológico e o financiamento para apoiar países em desenvolvimento no enfrentamento dos impactos da mudança do clima. Porém, foram poucos os resultados; 16 (2010/Cancun/México), em que foram instituídos o Fundo Verde do Clima, Mecanismos de Transferência Tecnológica e Ações de Adaptação; e 18 (2012/Doha/Catar), com a negociação da prorrogação do Protocolo de Kyoto por sete anos.

Chegou-se, assim, à COP 21, na França, em 2015, na qual foi firmado o Acordo de Paris. Este representou mudança de paradigma, ao estabelecer que todos os países assumiriam compromissos de mitigação e adaptação para manter o aumento médio de temperatura da Terra em no máximo dois graus Celsius, fazendo esforços para alcançar 1,5. Pela primeira vez, a precificação e o mercado global de carbono apareceram de modo explícito, no Artigo 6, anteriormente citado. Merece destaque, ainda, a Rio+20, em 2012, cujo propósito foi avaliar os avanços ocorridos desde a Rio92 e na qual a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em parceria com a FIRJAN, a prefeitura do Rio de Janeiro e a Fundação Roberto Marinho, coordenou e patrocinou o "Espaço Humanidade", uma das grandes atrações do evento.

A FIESP, por meio do Departamento de Meio Ambiente, estava acompanhando a questão desde a Rio-92. Em 2009, engajou-se de modo mais intenso, com a criação do Comitê de Clima e Energia, que preparou a participação da entidade na COP 15, em Copenhagen, cuja delegação era formada por mim, então seu coordenador, diretores e técnicos de departamentos. A partir daí, o colegiado participou ativamente das negociações com o governo brasileiro, elaborando documentos técnicos sobre os impactos da mudança climática na competitividade da indústria e do País. Também passou a integrar as reuniões preparatórias e as COPs. Em 2017 a federação publicou estudo sobre instrumentos econômicos de precificação de carbono, sua relevância e impacto nos setores de atividade e no PIB. É muito importante que as entidades de classe, como de resto toda a sociedade organizada, se manifestem e apresentem, ideias para a participação brasileira nesse importante tema de interesse coletivo.

Agora, a humanidade chega a Glasgow, alertada também pela Covid-19, com mais consciência de que não pode seguir desrespeitando a natureza. Cuidar dela, além de preservar a vida, é fundamental para a recuperação econômica pós-pandemia e o desenvolvimento sustentado.


​*João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).

Foto: Divulgação.


Veja também

Conteúdos que gostaríamos de sugerir para a sua leitura.

Envie os nossos conteúdos por e-mail. Utilize o formulário abaixo e compartilhe os link deste conteúdo com outros profissionais. Aproveite e escreve uma mensagem bacana.

Faça uma busca

Mais lidas da semana

Workplace

Para coordenadora de Workplace da Blip, escritório materializa cultura

Conheça nova sede da empresa, que busca centralizar encontros e valorizar identidade da marca.

Carreira

Crescimento desordenado de FM: quais são as consequências?

Nos últimos 20 anos, formalização da área avançou, mas existe baixo investimento em qualificação profissional. Robson Quinello, especialista em Facility Management, fala sobre precarização e oportunidades do mercado.

Mercado

Entenda todos os benefícios de prédios com certificação LEED

Selo internacional pode fazer uma grande diferença.

UrbanFM

Inversão da pirâmide etária: nossas cidades estão preparadas?

Especialista em Gestão Urbana comenta aumento da longevidade e a queda das taxas de natalidade em artigo.

Sugestões da Redação

Revista InfraFM

Repensar a gestão das instalações de trabalho

Tendências inovadoras e sustentáveis se destacam na pesquisa da Aramark, que traz as transformações no Gerenciamento de Facilities em 2024.

Revista InfraFM

Maior encontro de FM da América Latina: do invisível ao indispensável

InfraFM realizou quatro encontros em evento único, com mais de 5,5 mil participantes.

Revista InfraFM

Insights das palestras do 19º Congresso InfraFM

Acompanhe um resumo das palestras e explore as inovações sustentáveis e estratégias avançadas no campo do Facilities Management.

Revista InfraFM

Inovações que transformam foram cases de sucesso dos expositores

Nas Arenas Soluções para FM, foram apresentados conteúdos com cases de sucesso dos expositores, que destacaram serviços, tecnologias e pessoas.

 
Dúvidas sobre os EVENTOS?
Fale com a nossa equipe pelo WhatsAPP