As pessoas buscam viver experiências memoráveis. Isto é particularmente evidente na geração millennial, mas não é apenas ela: todas as gerações estão percebendo que experiências positivas durante seus momentos de consumo são tão valiosas quanto o ato da compra em si. Indo mais além nesse fluxo evolutivo do consumo, é interessante observar o conceito do omnichannel - a capacidade de unir com excelência todos os canais de comunicação e venda com o cliente - e como os setores imobiliário e varejista precisam estar em sinergia para atender a mais esta demanda do mercado. Ao contrário do que muitos pensam, mais da metade do público que compra online declara que uma loja física próxima de casa ou do trabalho é importante para a decisão de compra, enquanto 95% dos pesquisados de 21 a 38 anos de idade declara que visitas ao comércio físico que abra nas suas proximidades, aumentará também o número de visitas ao site da mesma marca (Fonte: ICSC).
O Omnichannel traz ainda facilidade do acesso a informações de produtos e serviços, disseminação de formatos inovadores de transações e velocidade de plataformas de comunicação digital, aculturando os consumidores à avidez por comodidade e imediatismo.
Na tentativa de atender a essas duas pressões, o mercado imobiliário adapta seus projetos para abrigar múltiplos usos, capazes de suprir grande parte das necessidades do consumidor: moradia, trabalho, diversão, compras, saúde, serviços e proximidade a modais de transportes públicos. 85% da geração millennial pesquisada declara preferir espaços de uso misto para morar e trabalhar. Na outra ponta, 80% dos desenvolvedores imobiliários dos Estados Unidos consideram iniciativas de projetos de uso misto. Outro dado aponta que 44% dos frequentadores de shoppings e centros comerciais querem ter acesso, ali, a outras experiências além do consumo (Fonte: ICSC).
Corroborando ainda ao conceito do empreendimento de uso misto, está o fato das incorporadoras apostarem na construção de apartamentos compactos em eixos adensados da grande metrópole: muitos dos lançamentos mostram unidades menores, com ambientes conjugados e mínimo espaço para acondicionamento de produtos. Isto faz com que os moradores não apenas aumentem a frequência de compras em menor escala, mas também fomentem outras formas do comércio, como a alimentação fora do lar e o delivery.
Hoje em dia dificilmente alguém faz compras do mês: até as grandes redes de mercados tiveram que repensar o formato das lojas para se aproximarem do cliente, que busca compras pontuais, em maior frequência e próximas à moradia ou ao trabalho. A solução encontrada foi o mercado de proximidade ou de bairro. Nos últimos 4 anos, a disseminação dessas novas lojas atingiu a casa das centenas apenas na cidade de São Paulo, observando-se ainda novas marcas entrantes neste segmento todos os anos. Muitos empreendimentos prontos e em desenvolvimento carecem de estrutura própria para acomodação deste novo tipo de comércio. É preciso buscar orientação e exemplos globais de melhores práticas em relação à definição e dimensionamento do produto imobiliário, comercialização efetiva, administração e avaliação de ativos e investimento em espaços como estes.
Victor Hirata, Gerente de Desenvolvimento de Negocios da CBRE
Por fim, segundo a ONU, a população mundial seguirá crescendo até 2050, chegando a 9 bilhões de pessoas. A concentração de população nas áreas urbanas nunca foi tão grande - e só tem a crescer. De acordo com dados da Ernst & Young, 54% das pessoas vive hoje em cidades, número que deve chegar a 70% em 2050. Somando-se a isso, a chamada "economia da experiência", o impacto da tecnologia e o omnichannel, os setores imobiliário e varejista precisam se preparar com as corretas estratégias de expansão, sob o risco de não conseguirem atender a esse novo tipo de consumidor.
Victor Hirata é Gerente de Desenvolvimento de Negócios da CBRE
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