Notícia publicada em 1 de outubro de 2018
Com a nova legislação sobre ar condicionado vigente no Brasil, aumentaram os eventos e palestras técnicas sobre a correta elaboração do PMOC - Plano de Manutenção Operação e Controle de sistemas de ar condicionado bem como a qualidade do ar interno.
Um dos temas mais polêmicos e tecnicamente questionáveis na legislação brasileira sobre sistemas de climatização é o limite de Dióxido de Carbono estabelecido pela ANVISA - Agencia Nacional de Vigilância Sanitária através da Resolução 09 de 16 de janeiro de 2003. O valor definido pelo grupo técnico de trabalho ANVISA em 2003 foi de 1.000 ppm, como marcador de renovação de ar. Na época, assumiu-se o ar externo na faixa de 300 ppm, sendo que para um diferencial de 700 ppm, era obtido o limite de 1.000 ppm através de um cálculo do ponto de equilíbrio para 15 cfm/ pessoa.
Ocorre que atualmente esse valor médio de CO2 na atmosfera ultrapassou recentemente o valor de 400 ppm. Considerando esse aumento no ar de renovação, o valor limite interno deveria ser variável sendo aceito 700 ppm acima do exterior. Normalmente as medições externas estão entre 400 e 500 ppm, tendo o ar interno como limite ideal o valor de 1.100/ 1.200 ppm. A versão mais atual do padrão LEED, item EQ1.2, já considera a comparação entre níveis internos e externos de concentração de CO2 para realização de ventilação controlada por demanda (Demand Controlled Ventilation-DCV).(5)
É importante frisar que nesses valores em torno de 1.000 ppm, o CO2 não é prejudicial à saúde dos ocupantes, apesar de prejudicar funções cognitivas. Pelas normas regulamentadoras brasileiras o limite de exposição é de 3.500 ppm para 08 horas de exposição. Novamente, ele é usado como marcador de renovação de ar interno já que o metabolismo animal é, em geral, a única fonte de CO2 em ambientes internos. Se não há concentração excessiva desse gás, entende-se que outros contaminantes existentes que não são monitorados estarão sendo diluídos pelo ar exterior.
Outro ponto importante a esclarecer é a relação entre a produção de CO2 e o odor corporal. Os níveis de CO2 oscilarão de acordo com a atividade metabólica ou a densidade de ocupação. Como o CO2 é um bom indicador de atividade metabólica humana, também pode ser usado como marcador para outros bioefluentes humanos emitidos. (1)
Outro marcador possível é a concentração de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) - geralmente relacionados a odores. No entanto, há uma dificuldade técnica em estabelecer limites para este grupo, já que este se refere a mais de 10 mil compostos diferentes e sua medição é feita de forma agregada. Independentemente do parâmetro monitorado, a situação ideal seria um acompanhamento continuo e
histórico das variações por ambiente.
Um fato sobre esse tema que precisa ser esclarecido é o nível de Dióxido de Carbono encontrado no ar exterior. Alguns profissionais têm relatado medições recorrentes de CO2 acima de 600, 700 ou até 800 ppm. Níveis desta ordem podem estar relacionados a equipamentos mal calibrados ou, até mesmo, metodologia incorreta na medição.
Considerando que a concentração de CO2 no volume expirado por uma pessoa é da ordem de 40.000 ppm, deve-se atentar também para o procedimento de medição, já que respirar no entorno da sonda pode
alterar o valor medido severamente.
Se uma medição realizada ao ar livre, dentro das boas técnicas de amostragem ultrapassar o valor em torno de 600 ppm, só será possível caso haja uma significante contaminação por uma fonte de vapor de
combustão. (1)
Normalmente, os níveis de CO2 tendem a permanecer relativamente constantes durante o ano todo. Isto é principalmente devido ao fato de que as moléculas de CO2, como a maioria dos gases, tendem a se difundir rapidamente e se equalizar por toda a atmosfera. Geralmente, os níveis ambientais de CO2 não devem variar mais de 50 ppm.
Graças a esta característica, a renovação do ar interno é possível com um simples abrir de janela. Medições da NASA mostram uma variação de 387 a 402 ppm no Brasil ano de 2014.
Em 2016, a concentração atmosférica de CO2 alcançou 403,3 partes por milhão (ppm), acima dos 400 ppm registradas em 2015.
A Conforlab, laboratório acreditado pelo CGCRE/ INMETRO e ANVISA na norma de qualidade "ISO/IEC 17.025 - Procedimentos Laboratoriais em Saúde", realiza em torno de 120.000 amostragens do ar por ano, com cerca de 15 mil amostras de ar exterior em todo o Brasil. Menos de 1% das amostras de CO2 do ar externo apresentam nível acima de 600 ppm.
Ainda assim, é bom lembrar que a maioria dos equipamentos Portáteis tem desvio de amostragem em torno de 50 ppm. Muitos confundem a poluição do ar das grandes metrópoles com resultados elevados de CO2. Sim, o nível de Dióxido de Carbono na atmosfera cresce anualmente com o aumento da poluição da
combustão de combustíveis fósseis. Mas esses níveis não chegam a valores elevados como relatados.
Tratando-se de amostras externas, deve-se suspeitar de medições acima de 500ppm.
Afirmar, portanto, que regiões urbanas de São Paulo, Rio de Janeiro ou Salvador terão medição de CO2 em torno 700/800 é um erro. É como fazer uma medição de temperatura perto do motor de um automóvel
funcionando e dizer que a temperatura da cidade naquele dia estava a 70oC!
Referência:
(1) ASHRAE JOURNAL - Demand Control Ventilation Using CO2 - February 2001 - By Mike Schell and Dan Inthout
Leonardo Cozac é Engenheiro Civil e Segurança do Trabalho, Consultor Certificado em Qualidade do Ar Interno e Diretor da Conforlab. Arthur Aikawa é Engenheiro Eletrotécnico e CEO da OMINI Eletrônica
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