Apesar da instabilidade política e da lenta recuperação econômica, o Brasil permanece alvo dos interesses de investidores estrangeiros e nacionais, registrando um aquecimento do mercado de fusões e aquisições (M&A). No primeiro semestre de 2018, o volume financeiro deste tipo de transação já acumulou uma alta de 18% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo R$ 101 bilhões, com 471 operações*. Dados do Mergermarket apontam ainda que o quadro favorável deverá se intensificar após as eleições, com um crescimento estimado em mais de 20% no número de negociações.
"Entre 2016 e 2017, muitas oportunidades de negócios foram geradas pela recessão e pelos impactos da Operação Lava Jato, com grandes conglomerados públicos ou privados precisando se desfazer de ativos para equilibrar o fluxo de caixa e administrar o endividamento", destaca Alexandre Pierantoni, diretor da Duff & Phelps no Brasil. "Mas o que está mantendo este mercado aquecido é uma conjuntura mais favorável, com taxas de juros mais vantajosas para os compradores, uma perspectiva de crescimento do PIB, ainda que modesta, uma previsão de inflação dentro da meta do Governo, reformas estruturais em discussão, declínio do desemprego e ligeira retomada dos índices de confiança do consumidor", acrescenta.
Para Pierantoni, embora a situação hoje não seja a ideal, há um grande contraste com o panorama dos últimos dois anos, com toda a instabilidade gerada pelo impeachment presidencial e denúncias de corrupção. "Neste ano, tivemos operações de aquisição no Brasil que ultrapassaram os US$ 14,5 bilhões. Transações como esta mostram que há espaço para bons negócios, mesmo em um ambiente político que ainda é volátil", acredita.
"O mercado brasileiro tem muitas empresas em diferentes estágios de desenvolvimento. Algumas delas são familiares e buscam profissionalização e capitalização para crescer, o que deve atrair investidores e oportunidades de M&A em todos os setores", analisa o diretor. "Esse é um quadro que você encontra em outros países da América Latina, mas a escala e o volume que o Brasil oferece são um diferencial que atrai principalmente o capital estrangeiro. Não só dos chineses, que estão muito presentes, mas dos europeus também, uma vez que, conforme divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, foram responsáveis por 51,5% das aquisições em 2017", completa.
Como consequência do aquecimento do mercado de fusões e aquisições, aumenta a procura por serviços especializados como diligência investigativa (em inglês, due diligence), investigação prévia capaz de apontar aos potenciais compradores informações essenciais sobre a conformidade financeira, operacional e reputacional das empresas de interesse. O procedimento também traz luz a possíveis conflitos de interesse, relacionamento com entes públicos e outros pontos que podem oferecer um risco reputacional às companhias.
"Questões sensíveis envolvendo práticas ilícitas ou ausência de compliance são alvo de atenção em todos os países, mas no Brasil uma das maiores preocupações dos investidores estrangeiros está na potencial contaminação do ativo por atos de corrupção, justamente pelo cenário bastante específico que temos aqui", revela Fernanda Barroso, diretora geral da Kroll no Brasil, pioneira em diligência investigativa. "A Lei Anticorrupção ampliou a cautela com os eventuais riscos, atribuindo responsabilidade administrativa às empresas pelos atos de corrupção realizados por funcionários", esclarece.
A especialista da Kroll ressalta que a disseminação da diligência investigativa certamente pode trazer benefícios para o mercado e a economia como um todo. "No segmento da construção, por exemplo, as melhorias nos processos de compliance estão avançando, o que potencialmente trará mais players internacionais", afirma Fernanda. "Neste contexto, a diligência investigativa assume um papel fundamental, possibilitando que os processos de aquisição de companhias ocorram de um modo bem-sucedido", finaliza.