Fim de ano é o período de fazer um balanço, tentar cumprir algumas metas ainda não alcançadas, comprar presentes, deixar a casa em ordem para as festas de confraternizações, organizar as férias do início do ano, planejar projetos, e por aí vai. São muitas questões e enquanto você lê essa introdução, provavelmente pode estar sofrendo por essa tensão, fazendo essa retrospectiva e pensando o futuro. Mas isso é comum. De acordo com a International Stress Management Association (ISMA), o estresse aumenta 75% nos últimos meses do ano.
Diante disso, podemos definir ansiedade a partir de diferentes acepções, porém, é possível pensá-la como um afeto diretamente relacionado a expectativa de eventos futuros. Neste sentido, a aproximação do fim do ano e os significados específicos que esta data pode ter para cada indivíduo,como por exemplo o de fechamento de um ciclo e a abertura de novas possibilidades, que pode contribuir para deixar alguém mais ansioso. Mas é importante analisar se o aumento da ansiedade pode estar relacionado a expectativas negativas quanto aos eventos futuros.
É importante entender que a ansiedade é um afeto ligado a uma virtualidade, isto é, à expectativa de um evento futuro, o imaginário da pessoa, dito de outro modo, suas fantasias em relação ao evento futuro podem colaborar para que ela se sinta mais ansiosa. Em termos gerais, nosso mundo mental busca evitar grandes mudanças. Posso citar como exemplo o quanto permanecer em um relacionamento afetivo "morno", sem grandes mudanças, pode ser mais cômodo do que terminar este relacionamento e ter que se deparar com uma nova realidade: será que vou permanecer solteiro? Será que vou conseguir namorar outra pessoa? Será que esta nova pessoa será 'melhor' que meu ex?
Ilustro com este exemplo, o quanto o 'novo' pode contribuir para que nos sintamos ansiosos, ou seja, a ansiedade pode estar relacionada a incerteza ou mesmo às expectativas negativas diante do futuro e, sendo assim, o final de um ano e o início de um novo ciclo podem contribuir para que as pessoas se sintam ainda mais ansiosas.
No caso da passagem do ano, é possível que esse período contribua para o incremento da ansiedade do sujeito, aumentando as incertezas diante do futuro. Essa passagem é "experienciada" como a porta de entrada para um inevitável cenário um tanto desfavorável e, diante de uma tragédia anunciada, o indivíduo ansioso pode sim apresentar problemas nessa época. Por outro lado, o fim de um ciclo pode também abrir caminho para um recomeço, fortificando assim possíveis crenças em um mundo melhor, ou em diferentes maneiras de ser e estar no mundo que muitas vezes são representadas pelas promessas de ano novo.
A Psicologia aposta que a possibilidade de compartilhar nossos sentimentos e incertezas diante de alguém que nos ofereça uma escuta atenta pode auxiliar na elaboração de nossos conflitos. Sendo assim, uma rede de apoio, no trabalho, laços familiares e de amizade podem auxiliar o sujeito a ressignificar suas crenças e fantasias que geram ansiedade. Mas se mesmo assim o indivíduo permanecer em sofrimento, o auxílio de um psicólogo poderá compreender de forma mais cuidadosa os possíveis fatores que estão diretamente relacionados aos seus estados ansiosos e, se for o caso, pode recomendar uma intervenção medicamentosa.
Um exercício bom para perceber se você é refém dessa ansiedade temporal é refletir sobre a chegada do final do ano, elaborando reflexões acerca daquilo que buscou contemplar no decorrer de todo este processo. Por vezes, a visão de fracasso diante de planos estabelecidos no início do ano pode contribuir para que o indivíduo se sinta em déficit consigo e este fato, por sua vez, poderá incidir sobre sua auto-estima e gerar sentimento de menos-valia.
É importante compreender que o fim de um ciclo e consequente o início de uma nova etapa, que pode ser representado de diferentes maneiras para cada pessoa. Por outro lado, se a pessoa não se questiona, não se indaga e, por conseguinte, não oferece a si a chance de se reposicionar diante da vida, a chegada do final do ano pouco ou nada tem a contribuir para possíveis reconciliações e mudanças efetivas e positivas. Por isso, é importante não se sobrecarregar, centralizando as coisas e tentando carregar o mundo nas costas. Organize o seu cérebro, planejando ideias e otimizando o tempo gasto; aprenda a lidar com adversidade e, por fim, mantenha o foco no presente.
Eduardo Fraga de Almeida Prado é psicólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie