Pesquisa recente do Gallup Institute mostra que cerca de 70% dos empregados entrevistados, no mundo todo, não estão realmente engajados em seu trabalho. Também há dados que comprovam que nos últimos anos o turnover cresceu mais de 50% e que há casos de aumento em até dez vezes na quantidade de licenças médicas. Penso que se você é um gestor, estes números deveriam te deixar indignado, ou até intrigado sobre o que poderia ser feito a respeito. Eis aí uma boa razão para arregaçar as mangas para fazer com que seu time não seja somente mais um nas estatísticas.
Cada vez mais estudam-se formas de otimizar a gestão. Ainda não há regras ou modelos para que este objetivo seja atingido, pois isso é algo muito pioneiro quando observamos a linha do tempo histórica das relações de trabalho. Mas já existem ambientes onde somente entregar seus problemas para um consultor ou resolvê-los a partir de receitas prontas não é o bastante.
Um caso notável é o da Valve. Muito mais do que uma empresa de games, ela se tornou aquela com o maior lucro por funcionário nos EUA. Seu diferencial baseia-se em um modelo organizacional flat, sem hierarquia ou gestores. Em seu escritório, as mesas são móveis, equipadas com rodas. Quando um colaborador não tem afinidade com certo projeto, ele tem liberdade para migrar para outro. E caso todas as pessoas abandonem determinado projeto, isso significa que ele deve ser extinto naturalmente, uma vez que não é interessante para a empresa. Trata-se de um conceito de evolução natural.
Outro modelo interessante é o desenvolvido pelo exército dos EUA, para lidar com guerras, denominado VUCA. Nele você divide as atividades do time em quatro categorias: simples, complicada, caótica ou complexa. Cada um desses contextos exige uma postura adequada por parte do líder. Tudo isso garante que ele tenha todos os recursos para tomar uma decisão responsável e empregar os recursos da maneira mais favorável para o grupo como um todo (e não somente para os gestores).
Independente do modelo ou método a ser empregado, acredito que a prioridade seja fazer um diagnóstico da sua equipe, observando-a de perto. Existem diversas métricas e metodologias capazes de traduzir o esforço empregado de cada pessoa em resultados, mas é preciso entender como está de fato a saúde de sua empresa. É preciso olhar individualmente para cada um e entender a fundo seus comportamentos, paradigmas, valores e necessidades, a fim de resolver os problemas de relacionamento do ambiente de trabalho. É preciso tratar o aspecto organizacional a partir de uma abordagem estratégica e humanizada por parte da área de Recursos Humanos.
Um pouco de História
Quando pensamos em gestão, nosso modelo mental geralmente nos condiciona a pensar em um local onde pessoas trabalham em ordem, semelhante a máquinas num ambiente industrial. Algo muito parecido com o que pregava Henry Ford, com seu sistema de linha de produção, tendo apenas como objetivo a finalização do produto de forma repetitiva. Contudo, o mundo cada vez mais vem se posicionando contra o uso de estruturas hierárquicas, seja ela no ambiente de trabalho, ou mesmo na sociedade.
Grandes revoluções nos últimos anos são um reflexo deste descontentamento. Não foram poucos os levantes populares que discordavam da forma como a autoridade é conduzida. Casos foram vistos na Ucrânia, Egito, França, Coreia do Sul e inclusive no Brasil. As pessoas vêm mostrando que desejam participação mais ativa e transparência. E no ambiente de trabalho isso não é diferente. Contudo, na prática hoje, o que mais se vê são estruturas em que o líder tem apenas alguns anos a mais de experiência com relação aos seus subordinados. E em muitos casos, não está clara a competência que justifica seu título.
Victor Hugo Germano é co-fundador da Lambda3, empresa de software sob medida, fundada em 2010, especializada em desenvolvimento, mobile, DevOps e nuvem, com mais de 100 clientes em sua trajetória e crescimento médio anual de 70%