Desenvolver um plano urbanístico para um bairro da cidade de São Paulo. Este era o trabalho final de uma disciplina do curso de Arquitetura e Urbanismo da USP. Um grupo de três alunos tem desempenho muito abaixo do esperado. Meses depois, um prêmio mundial desafia estudantes a criar um projeto para a área que hoje abriga a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na zona oeste da capital paulista.
Essa foi a oportunidade encontrada por Jessica, Eduardo e Luiz Henrique, estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, para superar a avaliação ruim na aula de Paisagismo III e ainda participar de uma das principais competições para pré-profissionais na área de arquitetura e design.
Para orientar a equipe, eles chamaram o mesmo professor responsável pela disciplina: Fábio Mariz Gonçalves. A competição durou dez meses e teve 150 equipes representando 46 países. Profissionais ligados à área de arquitetura e urbanismo, como os brasileiros Ciro Biderman, Adriana Levisky e Carlos Leite, e os estrangeiros Hubert Klumpner e Paola Viganò avaliaram os 12 melhores trabalhos.
O resultado? Os vencedores foram anunciados em cerimônia ocorrida em 25 de abril, no Clube Monte Líbano, em São Paulo, com a presença do prefeito da cidade, João Doria, de executivos dos setores da construção civil e incorporação e representantes de entidades ligadas ao mercado imobiliário. Essa foi a 14ª edição do Schindler Global Award (SGA), promovido pelo Grupo Schindler em parceria com a ETH Zurich.
"É a primeira vez que um país das Américas sedia o Schindler Global Award. Estamos muito orgulhosos por termos estudantes representando o país de forma tão positiva. Todos os participantes estão de parabéns. O objetivo principal do prêmio, de promover excelentes soluções de urbanismo, foi alcançado por todos", declara Andre Inserra, Presidente para as Américas do Grupo Schindler e Presidente da Atlas Schindler.
O desafio
O Schindler Global Award foi criado em 2003 e desde 2015 tem orientação global. As competições são realizadas a cada dois anos, com base em cidades ao redor do mundo. Em 2015, foi em Shenzhen, na China. Em 2017, o país escolhido foi o Brasil. Na edição realizada em São Paulo, o prêmio incentivou estudantes de todo o mundo a pensar em soluções de arquitetura e design urbano para a área da Ceagesp, que será transferida para outra região da cidade, e reconheceu os 12 grupos que melhor atenderam ao desafio de apresentar soluções urbanísticas, considerando o potencial da região e a integração ao contexto local.
No final do ano passado, um decreto da Prefeitura aprovou a saída de parte da companhia para a região de Perus, na zona norte. Mas o que será instalado no lugar da companhia ainda não foi definido. Quando a direção do Schindler Global Award escolheu a capital paulista para sediar a competição, houve um contato com a Prefeitura, que sugeriu a área para ser foco da competição e receber propostas de desenvolvimento urbano.
O projeto do grupo da FAU traz a reocupação do espaço, equipando-o com moradia, comércio e centros político-administrativos, além de conectá-lo com o restante da cidade para aumentar a acessibilidade da região. Para os três estudantes, um dos diferenciais do trabalho foi criar um novo endereço na cidade sem estigma social.
"Propomos a integração em vários níveis, misturamos todas as classes habitacionais em um ambiente em que pobres e ricos vivam lado a lado e possam construir algo juntos. Incluímos desde economia criativa à economia corporativa consolidada. Há também proposições para a mobilidade urbana em todas as camadas, começando com o pedestre, até em escala metropolitana de integração com os sistemas já existentes na cidade", resume Jessica.
Sobre a segurança, eles apostaram em um projeto não murado. "Segurança é uma percepção. As pessoas se sentem inseguras em partes da cidade e se mudam em busca de proteção", disse a estudante.
E o que eles farão com o prêmio? Usar uma parte para ir à Europa e conhecer de perto projetos que foram referência no desenvolvimento do trabalho e durante as disciplinas na FAU.
Os vencedores desta edição receberam prêmios que superam US$ 100 mil. Além dos campeões, outro grupo de brasileiros se destacou e recebeu menção honrosa (lista completa). Projetos de estudantes da Suíça (segunda colocação), China (terceira posição), Estados Unidos, Eslovênia e Liechtenstein também foram premiados. Os 12 projetos vencedores compõem um livro que descreve as sugestões de mudança para a região.
Fonte: Jornal Usp