Por Redação

A frase inicial é de Gisele Fernandes, a “mãe” da implantação do FM e executiva de Gente, que tem como braço direito a gerente de Facilities Renata Braga, da Ouro Safra. O FM saiu do “apaga-incêndio” e virou estratégia com projeto de processos padronizados em mais de 90 unidades, KPIs mensais, segurança com IA, limpeza orgânica e 5S, viagens corporativas integradas e manutenção predial expandida para lojas, silos, usina, fazenda com represa, trading e o prédio matriz.
Antes de falar sobre os desafios e a implantação do Facility Management, vamos contar um pouco da história inspiradora de Valdinei de Carvalho, CEO da Ouro Safra. Ele começou sua trajetória no agronegócio ainda jovem, em Pilar do Sul, interior de São Paulo, com um pequeno galpão, um caminhão e uma estrutura modesta para beneficiamento de grãos. Com apenas o ensino fundamental até a 4ª série e casado jovem, fez sua primeira negociação comprando 50 sacas de feijão e revendendo na Bolsa de Cereais de São Paulo. Após jornadas exaustivas, expandiu seus negócios, investindo em silos, lojas de insumos agrícolas e diversificando para outras regiões do país e para o mercado internacional de grãos.
Mesmo com o crescimento da Ouro Safra, que hoje conta com mais de 1.500 colaboradores e dezenas de unidades, Valdinei mantém o compromisso com suas origens e o foco no produtor rural, conduzindo a empresa junto com sua família. Ele valoriza uma gestão eficiente que aumenta vendas e lucros, mas também investe em capacitação e crescimento conjunto dos colaboradores, apostando na evolução coletiva como chave do sucesso, incluindo o desenvolvimento dos residentes e comerciantes da cidade de Pilar do Sul, com foco social.
Além disso, em 2025, Valdinei de Carvalho tem liderado a Ouro Safra em um momento de expansão significativa, com a inauguração de uma trading própria e um crescimento previsto de 60% no faturamento, com receitas projetadas para chegar a R$ 9,5 bilhões no ano, principalmente para a China. Valdinei é visto como o protagonista do crescimento sólido da empresa, focando no capital próprio e em baixa dívida.
Rural Facility Management
Com todo o crescimento, surge também a profissionalização das atividades que compõem o Facility Management. Para isso, a Ouro Safra vem fazendo no backoffice o que já aprendeu a fazer no campo: integrar ponta a ponta. Em três anos e meio de expansão acelerada, com 17 lojas de insumos, 01 loja de veículos, 33 silos, 16 escritórios de negócio, trading em São Paulo, 03 PCHs e mais de 1.500 colaboradores, a companhia tirou a área de Facilities do modo reativo e a posicionou como um capítulo central da eficiência operacional.
A mudança tem nome e sobrenome: Gisele Fernandes, que junto com o seu diretor executivo Nery Urias redesenhou a governança de Gente e Infra; e Renata Braga, que assumiu a gerência de Facilities com a missão explícita de organizar, padronizar e mensurar. “Backoffice sem número não se sustenta”, repete Renata, que transformou cada entrega em indicador, do tempo de atendimento ao consumo de insumos, do AVCB às ocorrências de segurança.
Do improviso ao desenho organizacional
Até 2025, a manutenção predial, a segurança patrimonial e os serviços gerais estavam pulverizados entre Engenharia e RH. O primeiro passo foi separar frentes e clarear papéis:
• Manutenção Predial (Alex – supervisor): sede, lojas, silos, usinas, casas e estruturas de apoio;
• Manutenção Operacional: foco nos equipamentos de processo dos silos;
• Engenharia: Focada em grandes obras e projetos;
• Segurança Patrimonial & Infra de Rede (Alex – supervisor): controle de acesso, cabeamento estruturado, CFTV e monitoramento 24/7;
• Recursos Corporativos / Serviços de Facilities: viagens corporativas, telefonia e dados nas filiais, materiais de escritório e comunicação interna;
• Limpeza orgânica (própria, já que na região não há prestadores de serviços especializados), dedetização, limpeza de caixas d’água e paisagismo nas unidades de maior fluxo (motoristas e áreas de descanso);
• Manutenção e comercialização da frota: heliponto, oficina mecânica para caminhões e loja própria que revende veículos substituídos por novos;
• Workplace com capela: cuidado com o escritório flexível e o corpo de colaboradores em expansão, sendo o último vindo do novo negócio de reflorestamento. Alías, o agronegócio é um dos grandes emissores e também um dos maiores potenciais sequestradores de carbono do planeta. Nesse sentido, a Ouro Safra acaba de comprar uma empresa responsável por adotar programas de reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) como formas de compensar e até neutralizar suas emissões.
• Rancho, fazenda, casas, represa e PCH: se é agro, tem fazenda, milhões de m² de terras, estradas, obras que não se encerram e estão o tempo todo em construção.
Indicadores como língua franca
Renata implantou um gerencial mensal com 15 dias de casa e nunca mais tirou o pé do acelerador. Hoje, a área apresenta ao board:
• SLA de chamados por tipologia;
• AVCB (novos projetos “do zero”, renovações e melhorias);
• Segurança do trabalho (queda consistente de acidentes — no mês passado, apenas uma ocorrência);
• Capacidade e produtividade da limpeza (redesenho de turnos para manter padrão no fim do dia);
• Consumo e descarte (substituição de 380 lixeiras de mesa por ilhas de coleta seletiva e instalação de fragmentadoras de alto volume, reduzindo tempo improdutivo e qualificando o descarte de papel sensível).
Esse arranjo eliminou gargalos, criou uma porta única para as demandas e possibilitou gestão por SLA. Resultado imediato: +108% de chamados de manutenção após um ciclo de treinamento explicando o escopo de Facilities e os canais corretos de abertura de tickets. Não é “mais problema”; é mais visibilidade e endereçamento certo.
Parece detalhe? Em FM, detalhe é método: menos horas recolhendo sacos de lixo, mais horas cuidando daquilo que move o P&L — disponibilidade de ativo, conformidade, segurança e experiência do usuário.
Segurança que vê, entende e antecipa
No CFTV, a Ouro Safra está escalando IA embarcada. O time projeta planta por planta (posicionamento de câmeras, racks, cabeamento e sensores), instala cerca de 70 novas câmeras por mês e já ampliou o parque em mais de 100 unidades inteligentes recentemente. Os próximos passos incluem visão por pessoas em estoque (quem pode estar ali e quando) e reforço perimetral. Drones estão no radar, o fornecedor já foi mapeado para o piloto. Tudo integrado ao monitoramento 24/7 e ao controle de acesso na matriz e nas filiais. Mensalmente, dashboards vão à diretoria com fatos, não achismos.
Manutenção predial em rede nacional
Com mais de 90 CNPJs e crescimento orgânico que adiciona, em média, três unidades por mês ao mapa, a manutenção predial deixou de ser predial: virou logística de ativos. O escopo cobre matriz, lojas, silos, usinas, casas de apoio e trading — da corretiva à preventiva e conformidades (AVCB, elétrica, hidráulica, acesso). A priorização é feita por criticidade e risco, com projetos de retrofit caminhando para Facilities enquanto a Engenharia foca obras estruturais e grandes expansões.
Limpeza orgânica, 5S e ambientação
A limpeza é orgânica (time próprio), e isso muda o jogo em escala: padrão estável, estímulo à produtividade e cultura 5S sob a batuta do Caio. Houve revezamento inteligente de turnos (manhã + estendido até 20h), garantindo a mesma qualidade no fim da tarde. Em paralelo, o paisagismo chega aos silos com sombras, árvores e áreas de descanso para motoristas — experiência do usuário não é frescura; é fluxo mais ordenado e seguro.
Viagens, telefonia e… Dubai na segunda?
A equipe de Recursos Corporativos (Caio) centraliza viagens, telefonia móvel e dados, e materiais de escritório. O atendimento cobre a trading no Ibirapuera (SP), inclusive demandas de última hora (“quinta pra voar segunda para Dubai” é um pedido real), e orquestra motoristas corporativos que servem a diretoria e demandas de apoio regional.
Governança e patrocínio executivo
Nada disso aconteceria sem o patrocínio direto do fundador e presidente, carinhosamente chamado de Nei, e de uma cultura que decide rápido. Ideias sobem com business case (custos, ROI, impactos) e descem como projetos. Quando não faz sentido agora, volta melhor depois. O lema é simples: “se ajuda o negócio e os dados provam, vai.”
E há um vetor simbólico potente: liderança feminina. Gisele é a única mulher na alta diretoria — e abriu espaço para mais mulheres em gestão (inclusive gerência de silo). Não é bandeira; é competência com entrega. “Olho para as pessoas com o coração e para os números com a razão — e trago a decisão para o centro”, diz Gisele. É FM com alma e planilha.
Compliance, energia e futuro próximo
Facilities também é conformidade e energia. O programa de AVCB ganhou esteira; a companhia acelera o OEA (Operador Econômico Autorizado) para exportação; e o parque energético próprio (PCHs e fotovoltaico em unidades e residências) entra na rotina de medições e análises de custo/geração, conectando FM à eficiência energética real, do capex ao opex.
O que vem agora (e rápido)
• Padronização nacional de escopos, SLAs e checklists por tipologia de unidade;
• Catálogo de serviços e centro de custos por linha de negócio (loja, silo, usina, trading);
• Expansão do CFTV com IA para estoques críticos e perímetros remotos;
• Métricas de experiência do usuário (ocupantes, motoristas, visitantes) conectadas ao SLA;
• Aquisição de talentos operacionais locais com programas de formação e banco de talentos regional;
• Esteira de projetos de retrofit sob FM, liberando Engenharia para grandes obras.
Por que isso importa
Organizar o agro por dentro é tão estratégico quanto plantar no tempo certo. Ao transformar Facilities em inteligência operacional, com gente, dados e propósito, a Ouro Safra prova que eficiência também nasce do cuidado invisível que faz tudo funcionar.
Porque FM no agro não é “apoio”. É infraestrutura crítica para originação, armazenagem, logística e exportação. Ao transformar Facilities Management em plataforma de serviço com dados, a Ouro Safra ganhou velocidade de expansão, conformidade recorrente e custos sob controle, sem abrir mão do cuidado com gente e experiência. É o tipo de virada que sustenta crescimento de bilhões por ano sem perder a organização da casa. E, convenhamos, casa bem cuidada vende mais grãos.
Na minha visão, o próximo salto do agronegócio brasileiro não virá apenas do aumento da produtividade agrícola, mas da profissionalização da infraestrutura que sustenta o campo. Quem entende de pessoas e de gestão de ativos, eficiência e bem-estar em ambientes complexos entende, sim, de fazenda. Acredito que o futuro do agro será tão “smart” quanto o dos edifícios corporativos.
As executivas de FM
Gisele Santos Fernandes é executiva de Gestão de Gente, com mais de 27 anos de experiência em desenvolvimento humano e organizacional. Ao longo de sua trajetória, atuou em diversos subsistemas de RH, o que lhe conferiu uma visão ampla e integrada da área. Especialista em comportamento humano e transformação cultural, Gisele conduz processos de definição e implementação de visão, missão e valores, fortalecendo a identidade e o propósito das organizações. Sua expertise inclui a formação de equipes de alta performance, o desenvolvimento de lideranças engajadas e a criação de planos de sucessão e estruturas de governança eficazes. Com um olhar estratégico e humano, ela impulsiona o crescimento sustentável das empresas, alinhando perfis e potencializando resultados por meio de uma gestão de pessoas que gera valor e promove sentido.
Renata Braga atua há 18 anos na área de Facilities Services, com sólida experiência em Property e Building Management, Real Estate e Workplace Services. Apaixonada pelo que faz, tem como propósito criar ambientes funcionais, acolhedores e eficientes, onde as pessoas possam se concentrar no trabalho enquanto ela e sua equipe cuidam de todo o backstage. Ao longo de sua trajetória, acumulou vivência em segmentos como bancos, condomínios corporativos, indústria eletrônica, tecnologia e alimentícia, sempre buscando o equilíbrio entre redução de custos e excelência na entrega. Com ampla experiência na gestão de equipes multidisciplinares, que incluem segurança patrimonial, limpeza, jardinagem, recepção, restaurante, estacionamento, frota, mobilidade corporativa, viagens, manutenção predial, CFTV e controle de acesso, Renata acredita em uma gestão de pessoas humanizada, baseada em empatia, colaboração e feedback constante. Para ela, o verdadeiro diferencial está em tocar vidas, desenvolver talentos e construir, junto às equipes, resultados sustentáveis e transformadores.