Congresso 2025
 

Facilities nas aldeias

Iniciativa da W-Energy transforma a vida de aldeias indígenas

Por Léa Lobo e Pedro Denadai

Facilities nas aldeias

Foto: Divulgação

Se antes caciques e pagés eram vistos apenas como guardiões das florestas e da cultura indígena, agora sua atuação como verdadeiros gestores de Facilities começa a ganhar visibilidade. A transformação sustentável dos povos nativos, impulsionada por iniciativas privadas como o projeto ESG nas Aldeias da W-Energy, traz uma perspectiva inédita sobre como a infraestrutura das aldeias pode ensinar valiosas lições à gestão de facilities nos grandes centros urbanos, principalmente em tempos de mudanças climáticas.

Inspirados nos debates do Fórum Econômico de 2025, onde líderes globais destacaram a urgência da transição energética e da gestão inteligente de recursos, exploramos como práticas inovadoras aplicadas em aldeias indígenas podem redefinir o conceito de Facilities. Afinal, enquanto edifícios corporativos buscam eficiência energética, zero desperdício e resiliência operacional, as aldeias já operam há séculos com esses mesmos princípios – muitas vezes sem sequer rotulá-los como “sustentabilidade” ou “ESG”.

Mas como essa conexão pode transformar o setor? E mais: como empresas podem replicar esses modelos e gerar impacto real em suas operações? Vamos entender essa interseção entre tradição e inovação, passado e futuro.

FM nas aldeias é sobre eficiência na essência

A aldeia Nova Esperança, da etnia Yawanawa, no Acre, vivia sem acesso a uma fonte confiável e limpa de eletricidade. A matriz energética local era insustentável: um pequeno gerador a diesel, extremamente poluente, barulhento e com combustível que precisava ser transportado por barcos ao longo de 15 a 20 horas de rios de difícil navegação. O impacto ambiental era brutal: além da emissão de carbono, os vazamentos constantes contaminavam as águas e afastavam a fauna.

Foi então que entrou em cena a W-Energy, empresa liderada por Wagner Carvalho, que implementou mais de 30 kits solares de última geração, levando eletrificação sustentável para diversas aldeias da região. O desafio logístico foi gigantesco: as placas solares e baterias saíram de Jaraguá do Sul (SC) e viajaram mais de 4.700 quilômetros de estrada até Cruzeiro do Sul (AC). De lá, seguiram em pequenas embarcações, enfrentando trechos de até 20 horas de rio, sem banheiro, cama ou cozinha, muitas vezes mais lentas por conta do peso das embarcações.

A tecnologia empregada era a mais avançada do mercado: baterias de lítio de alta eficiência presentes nos carros da Tesla e placas solares com durabilidade ampliada AAA, minimizando a necessidade de manutenção e permitindo o monitoramento remoto por meio de internet dos satélites. A escolha não foi por acaso – Wagner entendeu que, pela distância e dificuldade de acesso, a melhor solução seria aquela que exigisse o mínimo de suporte técnico, qualidade máxima, garantindo autonomia e confiabilidade às aldeias.

“Se fosse em um shopping center cliente da W-Energy, faríamos a melhor usina possível. Então por que no meio da floresta, off grid, seria as tecnologias mais baratas? O desafio logístico exige que a solução seja a melhor disponível para que o sistema não pare de funcionar e se atualize automaticamente, empoderando os caciques com as informações de produção de energia por meio do smartphone... Sem falar na dívida histórica que o nosso país possui com os povos nativos”, explica Wagner Carvalho.

Além da energia, foram fornecidos climatizadores, o primeiro carro elétrico das aldeias e notebooks para a escola.

Já na aldeia Makuan, o líder pagé Poja do povo Kamanawa, além de receber uma usina que atende toda a sua comunidade, recebeu um sistema de abastecimento de água potável, composto por poço, reservatório e tubulações, pois o projeto revelou algo chocante: a água do rio não é potável. Apesar do imaginário coletivo de que todos os rios amazônicos oferecem água cristalina, a realidade é outra. Muitos carregam resíduos de gasolina, óleo de motor dos barcos e alguns até metais pesados do garimpo ilegal. A instalação de poços profundos trouxe uma solução definitiva, eliminando problemas de saúde causados pelo consumo de água contaminada, além do conforto para o preparo de alimentos, banho e outras atividades que demandam água. Sem falar no ganho operacional, pois a água encanada eliminou o “vai e vem” dos deslocamentos até o rio.

Esse aprendizado é crucial para os Facilities Managers urbanos: há um paralelo direto entre os desafios enfrentados pelas aldeias e aqueles encontrados em grandes empresas e centros urbanos.

O futuro é ancestral: o que podemos aprender com as aldeias e aplicar nos espaços corporativos?

O que a transformação das aldeias pode ensinar aos Facilities Managers das cidades? A resposta está na simplicidade eficiente.

1.         Energia de qualidade com autonomia Muitas empresas já adotam usinas solares, mas poucas compreendem a importância de investir em equipamentos de ponta, armazenamento inteligente, com baterias duráveis que garantam resiliência energética. A aldeia nos ensina que qualidade compensa a longo prazo, pois as tecnologias adotadas possuem vida útil 4 vezes maior que as baterias de chumbo, por exemplo.

2.         Água potável é um ativo estratégico Em muitos prédios corporativos, o abastecimento hídrico depende inteiramente de concessionárias. Mas a perfuração de poços – prática já adotada por diversas aldeias – vai além da contingência, sendo sua principal fonte. Parece simples, mas a implantação de um projeto de uso racional de água pode dobrar a autonomia do reservatório das empresas, por gerar maior segurança às operações, principalmente em tempos de crise hídrica.

3.         Gestão proativa e antecipação de riscos A aldeia Mutum, que também recebeu os kits solares, passou por uma enchente que alagou a usina. Mas os indígenas, entendendo os riscos, desligaram a usina preventivamente, esperaram a água baixar e religaram o sistema dias depois, tendo 100% equipamentos funcionando sem danos. Esse modelo de resiliência operacional precisa ser incorporado em todas as organizações.

4.         Sustentabilidade é mais do que marketing No mercado corporativo, ESG ainda é muitas vezes visto como um diferencial de branding. Mas nas aldeias, sustentabilidade significa sobrevivência. Esse mindset pode transformar a forma como as empresas enxergam seus investimentos ambientais. É necessário trabalhar em harmonia com a natureza e produzir energia limpa por meio do Sol. Este é um motivo de muito orgulho, principalmente para abastecimento do “carro de golf” elétrico fornecido pela W-Energy para deslocamento de cargas, idosos e crianças nas aldeias.

A Amazônia no centro das atenções globais

O projeto ESG nas Aldeias da W-Energy acontece em um momento estratégico: o mundo está de olho na Amazônia. A COP 30, o Rock in Rio Amazônia e novos investimentos internacionais em sustentabilidade estão trazendo uma onda de oportunidades – e desafios – para o Brasil.

Durante o Fórum Econômico de 2025, em Zurique, o Brasil foi apontado como líder global em transição energética. No entanto, essa liderança ainda precisa sair do discurso e chegar à prática. E é justamente aí que os Facilities Managers entram: com ações concretas para transformar empresas e cidades em ambientes mais resilientes, sustentáveis e preparados para o futuro.

O que vem a seguir?

A eletrificação da Amazônia ainda está longe do ideal. Atualmente, na região apoiada pelo projeto, menos de 5% das aldeias têm acesso à energia limpa em todas as casas. O mesmo vale para grandes empresas, que ainda dependem excessivamente de redes elétricas instáveis e de alto custo.

A boa notícia? O modelo implementado na aldeia Nova Esperança pode ser replicado em qualquer lugar. Se funcionou em um dos cenários mais adversos do planeta, funcionará em qualquer indústria, shopping center, hospital ou prédio corporativo.

Por fim, o futuro da gestão de Facilities passa por um novo olhar: aquele que enxerga além dos centros urbanos e aprende com a simplicidade das aldeias. E se os pagés podem ser gestores de Facilities, talvez seja hora de os gestores de Facilities começarem a agir um pouco mais como pagés.

Destaques do Projeto ESG nas Aldeias da W-Energy: 

+ de 30 kits solares instalados,

Poços e Infra para acesso a água potável

Doação do 1º carro elétrico da história da floresta

Doação de notebooks para as escolas das aldeias, vestuário e ferramentas

Na imensidão da Floresta Amazônica, a chegada da tecnologia e da energia limpa tem transformado a vida das comunidades indígenas. A cada dia de sol, a energia gerada é armazenada em quantidade suficiente para garantir o abastecimento por até quatro dias, proporcionando autonomia mesmo em períodos chuvosos ou nublados.

Com o objetivo de fortalecer os povos originários na região, Carvalho enviou para a Aldeia Nova Esperança o primeiro carro elétrico da história da floresta, além de notebooks para as escolas locais, ampliando as possibilidades de educação e conectividade.

Energia e dignidade para a Aldeia Makuan

Na Aldeia Makuan, lar do povo Kamanawa, uma comunidade isolada onde a maioria dos habitantes não fala português, a mudança foi ainda mais significativa. Até então sem acesso à água potável, a comunidade sofria com doenças relacionadas à contaminação da água. A esposa do Pagé Pojá chegou a falecer devido a essa realidade, enquanto seu marido viajava da floresta até a sede da W-Energy em São Paulo.

Graças à iniciativa da W-Energy, uma usina solar com armazenamento adequado foi instalada para abastecer toda a aldeia e alimentar a bomba do poço perfurado, garantindo acesso permanente à água potável. Antes dependentes apenas da luz da fogueira durante a noite, hoje os moradores contam com energia limpa e conexão com a internet, possibilitando desde chamadas para emergências médicas até a defesa de seu território por meio da comunicação digital.

O sonho realizado do Pagé Tadeu Siã

A última aldeia a receber o projeto foi a do Pagé Tadeu Siã, líder do povo Huni Kuin. Ele, que sonhava em iluminar sua comunidade, celebrou a conquista da usina solar doada pela W-Energy. Convidado por Carvalho, o Pagé Tadeu Siã esteve presente no evento “Indicados INFRA FM”, levando sua mensagem de sabedoria e esperança.

Desafios, lições e a conexão entre dois mundos

A jornada de levar energia limpa para essas comunidades foi repleta de desafios, como a complexa logística de transporte e as enchentes, que se tornaram uma realidade constante em tempos de emergência climática. Esses obstáculos refletem também as dificuldades enfrentadas por Facilities Managers em regiões atingidas por desastres naturais, como recentemente ocorrido no Rio Grande do Sul.

Mas as lições extraídas vão além dos desafios técnicos. As usinas solares contam com monitoramento via aplicativo, acessível aos caciques, demonstrando a abertura dessas comunidades para o aprendizado e a gestão da tecnologia. Mais do que isso, o projeto foi possível graças às alianças estratégicas entre os engenheiros da empresa e o conhecimento ancestral dos povos indígenas. Sem a sabedoria local sobre navegação, sobrevivência na mata e os ciclos naturais, a implementação do projeto seria inviável.

Para os profissionais da W-Energy, que antes viam esse ambiente apenas em filmes, a experiência na floresta foi transformadora. Destacaram a coragem e o compromisso dos colaboradores que deixaram suas famílias e casas para morar nas aldeias durante toda a execução do projeto, além da hospitalidade de todas as aldeias que acolheram os trabalhadores com o que tinham de melhor. 

Sendo a última grande lição, o compromisso do líder da W-Energy, que fez a primeira e a última visita às aldeias, conferindo a funcionalidade, usina por usina, percorrendo os rios do maior pulmão verde do planeta. Mais do que levar tecnologia, trata-se de uma troca de saberes. Levar energia e água limpa, e conectividade para essas comunidades não é apenas um compromisso com a inovação e a sustentabilidade, é um exercício de gratidão por tudo o que a aldeia nos fornece – é um testemunho de que o futuro é, acima de tudo, ancestral.


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