Por Léa Lobo
Para relembrar, um pouco de história. O Bradesco foi fundado em 1943, em Marília, no interior de São Paulo, com o nome de Banco Brasileiro de Descontos. Em 1946, a matriz foi transferida para a capital paulista e com apenas oito anos de vida, em 1951, tornou-se o maior banco privado do Brasil. Nesta década chegou ao norte rural do Paraná e decidiu também erguer sua nova sede em Osasco/SP, onde iniciou suas operações em 1953 e que levou seis anos para ser concluída – conhecida pelo nome de Cidade de Deus, com os seus mais de 300.000 m² e por onde circulam cerca de 13.000 pessoas todos os dias, entre colaboradores, terceiros e visitantes.
Para entender como está organizada a área de Facility Management (FM) da organização bancária, conversamos com Oilson Prevot, Country Head de FM do Bradesco, que desde outubro de 2016 lidera a área e tem como linha de trabalho a centralização e especialização das atividades inerentes ao escopo de FM junto ao Departamento de Patrimônio.
Da esq. p/ dir.: Rafael Queirolo, Diego Nunes, Oilson Prevot, André Okamura e André Godoy
Oilson aponta para a intersecção das atividades de FM com a sustentabilidade e como as constantes transformações econômicas, sociais e ambientais nas quais estamos inseridos impactam diretamente o dia a dia da gestão de FM. Ele fala um pouco da trajetória na elaboração e consolidação da estratégia de serviços de FM até o contrato de gestão global, assinado no ano passado com a JLL, que é uma das lideranças mundiais em serviços imobiliários corporativos.
Antes, é importante destacar que o Bradesco é reconhecido por seus diversos compromissos socioambientais, tais como o abastecimento de suas operações com energia 100% renovável desde 2020 e a neutralização de todas as emissões de carbono geradas por suas operações, incluindo sua estrutura logística terceirizada e o deslocamento de funcionários, em todo o Brasil. Além das operações próprias foi um dos primeiros bancos a apoiar o Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD), conjunto de recomendações de reporte dos impactos financeiros decorrentes das mudanças climáticas; e é a única instituição brasileira presente na Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF), colaboração internacional entre bancos, investidores e gestores de fundos para mensurar e divulgar as emissões de carbono geradas pelas atividades financiadas pelos bancos.
O executivo iniciou sua carreira no Bradesco em outubro de 2016, momento da aquisição do HSBC, quando começou o processo de entendimento de toda a estrutura da Diretoria de Patrimônio. Assim, em 2017 ele iniciou os trabalhos com sua equipe para formatar o novo modelo de gestão da área, partindo da especialização e da seniorização do time.
Hoje, sua equipe incorpora desde a gestão da manutenção de prédios e agências, as áreas de limpeza, catering, ecoeficiência e sustentabilidade. Atendendo os mais de 100 prédios administrativos, 3.795 agências e mais de 5.300 pontos de atendimento, somando mais de três milhões de metros quadrados, com abrangência em todo o território nacional.
Para Oilson, o que mais lhe encantou neste processo de aprendizado e estruturação foi o desafio de, num portfólio tão diversificado e com uma escala nacional, melhorar a qualidade dos serviços prestados e, ao mesmo tempo, reduzir custos. “Naquele momento, somando toda a expectativa do alinhamento das atividades executadas pela área de FM à estratégia do banco, quando olhei o pipeline de oportunidades e o tamanho do desafio, eu fiquei muito entusiasmado porque era uma excelente oportunidade de colocar em prática todos os conceitos de facilities absorvidos em contratos globais, porém com a liberdade local, criando assim um grande projeto híbrido buscando o melhor de ambos os lados”, relembra Oilson.
Assim, explica ele, iniciou-se a estruturação da área, trazendo colaboradores com o mindset de manutenção predial que conseguiram enxergar as possibilidades da atuação de FM como um todo: a centralização e integração das atividades, com ganho de escala na negociação de contratos, otimização financeira e sustentabilidade para o negócio.
Oilson explica que FM2020 foi o apelido dado ao projeto para buscar levar os padrões de FM para os prédios administrativos do banco à níveis globais. Para isso, foram feitos benchmarks internacionais sobre modelos de contratação, que iam desde o orgânico até o modelo vested (atração de talentos). Com base nesses estudos e nas legislações brasileiras, estabeleceu-se o que seria o padrão mais adequado, que gerasse eficiência nos serviços, mais segurança operacional e disponibilidades de infraestrutura para continuidade de negócio, incremento no padrão de atendimento ao cliente e conforto aos funcionários – o que resultou em aumento de produtividade, redução de custos de manutenções corretivas e melhoria da qualidade. “Quando se fala de disponibilidade do ambiente bancário, você fala de dinheiro, e qualquer susto pode sair muito caro às empresas”, enfatiza ele.
A estratégia adotada partiu da otimização e integração de fornecedores de serviços altamente especializados – o time planejou o BID (processo de licitação) de gerenciamento e manutenção predial para 100% do portfólio de prédios administrativos do banco, implantando um novo modelo de gestão onde além da mensuração via KPIs robustos e especializados, o fornecedor pode ser bonificado percentualmente conforme ganhos decorrentes de eficiências e melhorias que produzirem para o contrato. “É uma maneira de incentivar e recompensar a proatividade, o protagonismo e a inovação, gerando uma relação de ganha-ganha para o banco, para os parceiros e para os negócios em geral”, explica o Head de FM.
Fechada a concorrência de todo o projeto FM2020, a pandemia impôs mais um desafio e grande parte dos trabalhos foram realizados de forma virtual, com grande apoio da empresa Vizzio Broadvise, contratada para suportar e auditar todo o projeto, desde a elaboração do edital de concorrência até a implantação da operação. A JLL foi a empresa ganhadora e tem a responsabilidade de trazer melhorias e inovações aos processos, bem como atuar como a gestora das empresas mantenedoras, que foram divididas por especialidades e em lotes, devido a amplitude territorial do Brasil.
Atualmente, o projeto encontra-se na fase de implantação do escopo de gerenciamento. Nesta etapa a expectativa é colocar em prática todo o planejamento realizado nos últimos dois anos, sem impactos na operação.
Este processo é controlado pela equipe de Governança FM, liderada por Rafael Queirolo, que atua também como PMO. “O FM2020 já ajudou a evoluirmos muito a gestão do facilities predial do Bradesco, mas o acompanhamento nos próximos anos será essencial para atingirmos a maturidade e os resultados esperados”, diz Rafael.
O Head de FM cita alguns gestores de sua equipe que estão à frente deste projeto: André Okamura, Gerente da área de ecoeficiência corporativa, FM de prédios administrativos e Governança de FM, tem como meta reduzir o consumo unitário, fazer melhores contratações para as fontes de utilidades e tornar a instituição 100% usuária de energias renováveis, sem impactos aos custos da área de FM, além de ser responsável por consolidar as estratégias de implantação do Gerenciamento do FM2020.
Já Diego Nunes, líder da área de ecoeficiência, vem desenvolvendo projetos de redução de consumo de água e energia, expandindo a certificação ABNT NBR ISO 14001 para todos os sites e gerindo o Inventário de Gases de Efeito Estufa (ISO 14064) para toda a organização.
André Godoy, Gerente de FM para a matriz, é responsável por protocolos de operação e manutenção de HVAC e limpeza em virtude do Covid, consolidação das estratégias de implantação dos escopos de manutenção do FM2020 e pela revisão da estratégia de contratação de serviços de limpeza de toda organização.
A área de FM tem um trabalho especial focado nas questões de sustentabilidade, que está entre os direcionadores estratégicos do Bradesco: o banco entende que a gestão de aspectos ambientais, sociais e de governança (“ASG” ou “ESG”, na sigla em inglês) é fundamental para a perenidade e crescimento da instituição, em um contexto cada vez mais dinâmico e desafiador. “Para isso, a nossa equipe tem realizado um trabalho de excelência nesta área”, esclarece Oilson.
As iniciativas implementadas já são de reconhecimento não apenas dentro do banco, mas destacam-se no mercado, de forma geral: o Bradesco passou a figurar na publicação do DJSI (Dow Jones Sustainability Index) de 2020 como o banco mais sustentável do Brasil, e está em 5º lugar na classificação mundial. Veja algumas das ações que colaboraram para essa conquista:
Energia 100% Renovável - elaboração de um plano, em 2020, para transformar a matriz energética da organização, utilizando-se apenas de energia proveniente de fontes 100% renováveis através de processo de aquisição dos I-RECs (um sistema global que possibilita o comércio de certificados de energia renovável) e desenvolvimento, a longo prazo, de uma estratégia de migração para o mercado livre de energia, Geração Distribuída e PPA.
Redução de esgoto através da ETE – Cidade de Deus. Tecnologia aplicada por meio da Estação de Tratamento de Efluentes, com volume anual tratado de cerca de 73.200 m³, segurança hídrica através da utilização de uma matriz composta por poços, ETE e Sabesp e desoneração das redes de abastecimento da região (Sabesp), colaborando para o bom abastecimento dos comércios e residências do entorno.
Gestão Ambiental. Ampliação da norma ABNT NBR ISO 14001 e Selo Ambiental do próprio banco, tendo como plano certificar toda a organização até 2023. Hoje, mais de 700 agências já tiveram sua gestão ambiental implantada.
Aterro Zero. Todo o resíduo não reciclável gerado na Cidade de Deus, nos prédios administrativos do estado de São Paulo e nas agências da Grande SP deixou de ser destinado para aterros, reduzindo cerca de 2.000 toneladas/ano de resíduos, mitigando o impacto ambiental.
Plano Diretor de Eficiência Energética (PDEE) + Plano Diretor de Eficiência Hídrica (PDEH). Planejamento das ações alinhadas à estratégia da organização de reduzir os impactos ambientais, visando a máxima eficiência energética e hídrica das operações com o uso de tecnologias aplicadas, buscando inovações com os projetos programados até 2023.
Emissões de Gás de Efeito Estufa. Inventário das emissões da organização, como rastreabilidade de todos os fluídos refrigerantes utilizados, substituição do gás R22 (usado como fluído propelente e refrigerante), utilização de biodiesel e revisão do plano de deslocamento de funcionários para redução das emissões e compensação de todas elas.
Outro diferencial feito pelo time do Bradesco é o Prêmio Destaques Patrimônio, que busca reconhecer os melhores parceiros de negócios do banco. Na categoria FM, mensalmente as gerenciadoras são avaliadas e ranqueadas, e podem acompanhar o seu desempenho durante todo o ano. Acompanhe a premiação de 2020 na página 12.
Agora, Oilson Prevot nos resume quais são os ganhos de FM com o projeto FM2020 Global e os benefícios para o Bradesco.
Quais foram os aprendizados do projeto FM 2020?
Percebemos que por mais que o mercado seja grande, o volume de empresas especializadas é bastante restrito. O entendimento de conceitos e melhores práticas de engenharia na manutenção e gerenciamento de facilities, bem como na área de sustentabilidade, têm um longo caminho de amadurecimento quando comparados a outros negócios. A simplificação da legislação brasileira pode impulsionar e modernizar o mercado de FM, que tem uma origem bastante diversa quanto à sua natureza e uma grande oportunidade de crescimento rumo à padronização e ao aperfeiçoamento de seus serviços.
Quais os ganhos financeiro e intangível com o projeto FM2020?
Os ganhos financeiros mínimos esperados são de 10% do orçamento total de FM nos primeiros 6 anos após a implantação, além da promoção da melhoria contínua dos processos, incentivo à inovação e à automação, melhor relação custo x qualidade, aumentando a produtividade e gerando mais valor para o banco.
Qual é o próximo grande projeto da área de FM? E considerando a questão do home-office pós pandemia?
O próximo projeto ainda é confidencial, mas posso adiantar que o foco será no portfólio de retail. Sobre o cenário pós Covid, estamos testando algumas tecnologias para a viabilização da implantação de shared spaces (espaços compartilhados), e novidades virão por aí.
Qual é a sua mensagem para colegas que atuam como você na área?
A área de FM deixou de ser um centro de custo para ser um centro de valor. É importante, no entanto, que haja mais integração entre todos os players deste mercado, para compartilhamento de ideias, ampliação do valor de FM nas organizações, otimização de esforços e aumento da percepção do valor agregado que a área pode adicionar, contribuindo para a geração de propósito das empresas e para a sua reputação.
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