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Tecnologia na sociedade e seus impactos nos projetos de arquitetura

Exemplos práticos para serem aplicados em espaços públicos, fachadas, áreas comuns, lobbies e halls

A tecnologia vem mudando a sociedade em diversos aspectos, transformando sua maneira de se relacionar, provendo informação, proporcionando entretenimento e mudando a cultura e hábitos. Pensando nisso, analisando holisticamente a hierarquia das necessidades de Abraham Maslow [1], o ser humano tem 5 necessidades básicas e para cada uma delas, existem aplicativos correlatos, corroborando a tecnologia arraigada na sociedade:

1) Fisiológica – necessidades básicas para a vida como respirar, comer, beber (iFood, Dr Consulta, apps de planos de saúde);

2) Segurança – necessidade de nos sentirmos seguros (localização de celular, fintech, Uber);

3) Social – necessidade de se relacionar com as pessoas (Facebook, Tinder);

4) Estima – necessidade de nos sentirmos dignos, estimados, autoconfiantes (Twitter, LinkedIn, EaD, Kindle);

5) Autorrealização – necessidade de se sentir bem, fazer o que gosta, perceber evolução (Instagram, Decolar, Airbnb).

Para suportar todas estas mudanças de comportamento e todos estes recursos disponíveis nas mãos dos usuários no formato de aplicativos e serviços, o hardware precisou evoluir. Computadores que antes serviam basicamente para estudos e trabalho, hoje são plataformas multitarefas e de alta capacidade de processamento. Da mesma forma, os celulares evoluíram trazendo ainda mais recursos que computadores convencionais, tirando fotos, fazendo filmes, pagando contas etc. Todo este poder de hardware deu às pessoas a possibilidade de fazerem uso da tecnologia no seu mais alto nível, interagindo em todas as esferas de suas vidas, assim como exposto acima.

Explorando o contexto da comunicação, as pessoas entenderam que elas não estão mais presas as barreiras das distâncias, podendo falar e ver umas às outras, fazendo aqui o uso de recursos audiovisuais. Knock diz que a comunicação virtual é mais complexa do que a física por exigir uma carga cognitiva (atenção, percepção, memória, criatividade...) maior do que a natural, mas que todos conhecem o ambiente real e isso facilita a adaptação ao uso da mídia [2]. A tecnologia por meio dos recursos audiovisuais fez com que pessoas da mesma cidade fiquem tão próximas quanto pessoas em países diferentes e uniu todas as faixas etárias com a simplicidade de conexão.

A evolução na interação da sociedade com a tecnologia vem impactando ainda a cadeia econômica. Na indústria do entretenimento por exemplo, empresas como Netflix, Amazon e YouTube encurtaram o caminho entre o espectador e o produtor de conteúdo de entretenimento, analisando o perfil dos usuários e oferecendo material específico de acordo com suas escolhas e gostos. Sejam bem vindos a era da macrotransição tecnológica.

Tecnologia audiovisual em espaços corporativos

Entendendo esta realidade da tecnologia na vida das pessoas e como esta facilita a comunicação, seria leviano concluir que o meio corporativo permaneceria intacto. Tecnologia para as pessoas significa evolução, inovação, renovação, informação e ambientes que não acompanham esta integração, do físico com o digital, ficam descolados da realidade.

Dentro de um cenário de economia recessiva, por conta do isolamento social causado pela Covid-19, como será a volta a rotina em um ambiente onde as pessoas precisam se relacionar, mas com contato físico restrito? A resposta é conectividade em todo o lugar! As plataformas de reuniões remotas tornaram as pessoas ainda mais produtivas encurtando distâncias e reduzindo o tempo com deslocamento. Todos estão a um click de distância.

O home office vai mudar muita coisa nos ambientes corporativos. De acordo com pesquisa realizada em 400 escritórios corporativos no Brasil, 95% destes pretendem explorar mais o trabalho remoto, mas não migrar totalmente [3]. Mediante a este cenário, para se adaptar à nova realidade, a empresa precisará estruturar uma política de home-office e fazer a gestão de estações de trabalho, não dando lugar físico aos funcionários, mas lugares rotativos agendados digitalmente. Esta gestão é possível através de sistemas de agendamento de hotdesks e salas de reunião onde o usuário define, dentro das políticas da empresa, os dias em que ele irá ao escritório e em qual estação de trabalho ele ficará.

Outro ponto é sobre o formato e as tecnologias necessárias para se fazer uma reunião. Atualmente a maioria das pessoas está adaptada às plataformas de reuniões remotas (Skype, Teams, Zoom, Webex etc.), portanto, o desafio é trazer esta realidade para o conceito do projeto. A tecnologia avançou neste quesito também, trazendo soluções onde o usuário chega com seu computador na sala de reuniões, o conecta via HDMI e USB na interface de mesa e usa sua plataforma de videoconferência habitual com microfones profissionais, caixas de som profissional e display adequado presentes na sala. Isso, além de ser um recurso muito atual, é mais barato que sistemas de videoconferência convencionais. Este já é um dos conceitos mais usados nos projetos atuais.

Falando de hardware, uma terceira tendência nas empresas é a dos usuários poderem transmitir sem fio o conteúdo de seus celulares e PCs em uma tela, fugindo de problemas causados por tipos de conexões. Para resolver esta questão a indústria audiovisual trouxe um hardware onde o usuário se conecta a ele sem fio e consegue transmitir o conteúdo do seu computador ou celular para qualquer tipo de display como TVs, monitores e projetores.

Mas como ficam os espaços públicos, fachadas, áreas comuns, lobbies e halls? A tendência é que estas se tornem contadores de histórias, harmonizando tecnologia e arquitetura.

Tecnologia audiovisual em espaços públicos

Existe um conceito em ascensão na arquitetura chamado “Arquitetura de Mídia”. Este defende a concepção de um espaço de forma integrada com a tecnologia. Brynskov et al. diz que a arquitetura de mídia é o “conceito abrangente que engloba o design de espaços físicos em escala arquitetônica, incorporando materiais com propriedades dinâmicas que permitem comportamento dinâmico, reativo ou interativo” [4].

Navegando no conceito, o que seria uma má aplicação e uma boa aplicação da arquitetura de mídia? Uma má aplicação seria uma TV pendurada na parede passando um conteúdo de TV por assinatura, em desarmonia com o ambiente, tanto em estética, quanto ao propósito e conteúdo. Para Webster, “as instalações digitais devem ser tratadas como um material arquitetônico que precisa ser manuseado com cuidado, bem projetado e com propósito” [5]. Uma boa aplicação dinamiza, empolga e expressa uma narrativa do espaço, situação tal encontrada no novo escritório da Serasa Experian, na Torre Sucupira, na cidade de São Paulo, Brasil. O objetivo do projeto foi transformar o hall de entrada em um ambiente que contasse a história da empresa e impactasse a todos. Para isso foi montado um painel de LED no forro e parede transformando o hall em um ambiente imersivo neste conceito. Resultado, os funcionários começaram a postar nas redes sociais vídeos espontâneos no hall, as visitas ao espaço aumentaram e o Presidente da empresa participou de um vídeo sobre o projeto onde ele aparece no painel contando sobre a história da empresa, falando sobre a marca forte que representa e falando sobre encantar clientes. O hall dos elevadores virou a estrela do projeto, pois uniu o conceito do espaço com a tecnologia.

Toda empresa quer passar uma imagem de empresa atualizada, tecnológica, inovadora, inspiradora, mas como fazer isso? Para ajudar a explorar um pouco mais o conceito, Hoggenmueller et al. traz 5 classificações com suas definições sobre arquitetura de mídia, sendo elas [6]:

1. Integração física da tecnologia de exibição na arquitetura: é a utilização de componentes tecnológicos como parte do conceito do espaço;

2. Estética do material do meio: Se preocupar com a composição do material e como este se integrará ao ambiente de forma a fazer parte dele;

3. Aspectos comunicativos e informativos da arquitetura de mídia: Painéis informativos em rodovias, ruas e praças tem sua função, contudo é necessário considerar não apenas o material da comunicação, mas também como se comunicar com o público, buscando representações visuais novas e criativas ou transformando espaços públicos em ambientes lúdicos aumentados;

4. A consideração de aspectos contextuais desempenha um papel importante para uma implantação bem-sucedida em espaços públicos: seguindo o conceito de visualizações urbanas situadas, Vande Moere e Hill enfatizam que as visualizações embutidas na forma de exibições físicas precisam respeitar e responder às características do local circundante, fornecendo informações relacionadas ao contexto local e que oferecem relevância sociocultural para a população local [6];

5. Arquitetura de mídia facilita e melhora as interações sociais no ambiente urbano: como as experiências interativas são cada vez mais predominantes no ambiente construído, a interatividade também se tornou um aspecto importante na pesquisa de arquitetura de mídia. No entanto, não vemos a interatividade como um princípio em si;

Conclui-se que a sociedade é tecnológica e todas as esferas estão se transformando de acordo com a macrotransição representada por esta era. Tanto espaços fechados quanto públicos estão se adaptando as demandas trazidas pela humanidade, se tornando mais adaptadas ao remoto, ao virtual, provocando inovação e interatividade. Os espaços também precisam estar bem harmonizados para tornar esta realidade aprazível, empolgantes e gerar ainda mais engajamento nas pessoas. Portanto é através desta simbiose da arquitetura com a tecnologia que se pode encontrar a melhor resposta para os espaços públicos e privados do futuro.

Fontes:

[1] Abraham H. Maslow. (1987). Motivation and personality (3rd ed.). New York

[2] Knock, N. (2001), “Compensatory adaptation to a lean medium: an action research investigation of electronic communication in process involvement groups”, IEEE transactions on Professional Communication, Vl 44, N°4, pp 267-85

[3] AGÊNCIA O GLOBO. No pós-pandemia, escritórios ficarão com mais cara de casa, diz o arquiteto Sérgio Athié. Pequenas Empresas Grandes Negócios. Disponível em: Acesso em: 20 de maio de 2020

[4] Martin Brynskov, Peter Dalsgaard, and Kim Halskov. 2013. Understanding media architecture (better): one space, three cases. In Proc. of the workshop on interactive city lighting (CHI 2013). ACM, New York. spectacle in an urban light festival.

[5] WEBSTER, Emily. TRANSFORMANDO LUGARES EM EXPERIÊNCIAS: AS TENDÊNCIAS DA ARQUITETURA COM MÍDIA PARA 2020. AVIXA. 06 de fev. de 2020. Disponível aqui.

[6] Marius Hoggenmueller, Alexander Wiethoff, Andrew Vande Moere and Martin Tomitsch. 2018, Pages 106–117. A Media Architecture Approach to Designing Shared Displays for Residential Internet-of-Things Devices. In Proceedings of the 4th Media Architecture Biennale Conference. DOI

André Luis Atique, Gerente de Pré-Vendas da Eletroequip / AW Digital

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