Melhores práticas de limpeza em hospitais

A SAHE aconteceu em São Paulo e trouxe para o centro de debates os melhores cases de limpeza no ambiente hospitalar

Por Larissa Gregorutti

Tema de extrema relevância para hospitais, a South America Health Exhibition 2018 (SAHE) realizou no dia 14 de março a Rodada de Cases de Limpeza, Desinfecção e Esterilização de Produtos para a Saúde, e Superfícies Ambientais, que contou com a participação de profissionais da área da saúde que compartilharam as melhores práticas adotadas no ambiente hospitalar.

Espaço composto por áreas críticas, semicríticas e não críticas, o complexo hospitalar é um ambiente que requer a adoção de medidas específicas que visam garantir a segurança e a saúde de funcionários e pacientes, tais como a melhor escolha de produtos, o uso correto de materiais e descarte de resíduos, profissionais capacitados que recebem treinamento constante, gestão inteligente de leitos, gerenciamento de limpeza durante obras e reformas, entre outras.

Acompanhe a seguir essas e outras práticas abordadas no evento.

Avaliação e treinamento de equipes

Realizar o engajamento das equipes de limpeza foi a iniciativa apresentada por Angela F. Sola, do SCIH do Hospital 9 de Julho (H9J), que teve como objetivo assegurar que o pessoal de higiene e governança realizasse com técnica e eficácia os padrões de limpeza preestabelecidos pelo hospital, garantindo a segurança do paciente.

Estruturado com 410 leitos e uma equipe de 2.500 colaboradores e 4.500 médicos, o H9J procurou avaliar também nesse projeto os materiais, os equipamentos e os produtos químicos utilizados durante a limpeza, prevenindo a transmissão de vírus e doenças.

Na prática, leitos foram previamente selecionados e tiveram doze pontos de maior risco de contaminação marcados, para que após a higienização, fosse possível verificar com luz negra se o trabalho realizado pelo profissional de limpeza é adequado, feito com pressão, sem apenas arrastar a sujeira.

Após a avaliação, era possível verificar qual o profissional responsável pela higiene daquele apartamento, e se ele precisaria ou não de outro treinamento.

No início do projeto, a média de conformidade de limpeza que era de 42%, aumentou para 85% após o H9J adotar as medidas cabíveis. Além disso, com o resultado obtido o hospital mudou os produtos utilizados no processo, diminuindo a carga microbiana, e melhorando as condições de limpeza e o resultado no controle de infecção.

Limpeza com reformas simultâneas

Foi durante a construção de duas torres de atendimento do Hospital Sírio-Libanês, que Tatiana Herrerias, da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) teve dúvidas se estava em um hospital ou em um canteiro de obras.

Para lidar com os riscos provenientes de toda obra, como a transmissão aérea de patógenos infecciosos por meio de poeira, o barulho e o cheiro forte, foi preciso realizar um planejamento de gestão de obra e criar um mapa de risco considerando:

• o local onde acontecerá a obra, podendo ser considerada de risco baixo, médio, alto ou muito alto;

• atividades que serão realizadas na obra, por exemplo: A) a remoção de placas de forro para inspeção; B) a furação de paredes, piso e forro; C) a troca de equipamentos de ar condicionado; D) demolições e projetos de construção de grande porte; entre outros;

• a definição de classe de medidas a serem aplicadas, como: A) manter as portas fechadas durante obras simples; B) cobrir superfícies de trabalho com névoa de água para controlar a poeira durante perfurações; C) utilizar tapumes, cortinas de lonas para isolar as outras áreas do local de trabalho, antes do início das obras; D) no caso de obras mais complexas, construir ante sala e exigir que o pessoal da obra circule por elas para possibilitar a aspiração do pó com vácuo HEPA antes de deixar o local de trabalho; entre outras.

“Depois de definir a classe de medidas a serem aplicadas, é preciso realizar um instrumento de auditoria que é feito durante a obra, para verificar, por exemplo, onde fica o elevador, por onde o paciente vai passar, se será preciso treinar os pedreiros um dia antes da obra etc. Tudo isso é o checklist antes da obra, mas também existe o pós-obra, que é a classe de medidas do que é preciso fazer no término, como a limpeza da área de trabalho etc.”, esclareceu Herrerias.

E concluiu afirmando que o fundamental é realizar um trabalho em parceria com a equipe de obras e manutenção, além de incluir no Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) um procedimento que defina as medidas de prevenção que devem ser adotadas nas obras, reformas e reparos diários da instituição.

Limpeza terminal

No início de 2010, ao rever os critérios de alta hospitalar, a Gerente de Apoio Assistencial e Fluxo do Paciente do Hospital Israelita Albert Einstein, Enfermeira Tatiane Ramos Canero, e sua equipe se depararam com a necessidade de ampliar o acesso e assegurar que os pacientes recebam o cuidado certo, no lugar certo, na hora certa, promovendo maiores níveis de segurança e satisfação.

Teve início, então, o estudo do planejamento de alta hospitalar, realizado desde o momento da admissão, visando melhorar o atendimento da equipe médica. Todavia, não fazia sentido chegar no momento da alta hospitalar e aguardar 5h para a limpeza do leito, por isso, era necessário avaliar as vantagens entre escolher pela troca de uma equipe de higiene única por uma equipe de higiene especializada.

“Trabalhamos então com a modernização e revisão do processo, para realizar a limpeza do apartamento de forma mais rápida e eficiente; substituímos cinco produtos para simplificar a operação; fizemos o mapeamento e estudo dos fluxos, procedimentos e padrões; e oferecemos treinamentos cíclicos, com frequência e grade de supervisão contínua.”

Para antecipar o momento das altas hospitalares até a higienização do apartamento, o supervisor passou a acompanhar as atividades realizadas pelos profissionais de limpeza solucionando eventuais dúvidas. Houve então um estudo de quantas higienes cada colaborador fez naquele dia, e um estudo de variáveis para analisar o porquê a equipe não estaria conseguindo realizar o processo no tempo e maneira adequada.

Então, concluiu-se que além de escolher a equipe especializada, era necessário engajar e trabalhar o desenvolvimento de equipes, além de ter suas metas mais claras, para a redução do absenteísmo.

Hoje, além das demais mudanças no processo de atendimento do paciente, que reduziu o tempo da alta hospitalar, o tempo médio para o paciente receber alta e desocupar o apartamento passou para 1h. Após essa etapa, 30 minutos para a espera e deslocamento da equipe de limpeza, e mais 1h para realizar o processo de limpeza.

Práticas sustentáveis

Além de se preocupar com o processo de limpeza dentro dos hospitais, a questão da sustentabilidade passou a ser assunto de extrema importância para a rede de hospitais Leforte, que segundo a Enfermeira Elaine Ferreira Marques, Gestora Corporativa de Hotelaria Hospitalar dos hospitais Leforte Liberdade e Morumbi, passou a utilizar placas solares na unidade Lefort Morumbi desde 2009, com o intuito de economizar energia elétrica.

Já na unidade Liberdade, a Torre A é totalmente sustentável. Ela possui uma estação de tratamento dentro da torre, e faz o tratamento da água dos chuveiros e lavatórios, que em seguida é reutilizada nas descargas e nas áreas externas para lavagem das calçadas, fachadas e jardins.

No total, são 400 mil litros de água tratada e reutilizada por mês, que recebe um corante azul para ser diferenciada da água potável. Essa ação está interligada ao Bloco B, tendo em vista que na Liberdade são três torres do hospital.

Outra tecnologia limpa utilizada nas unidades dos hospitais, principalmente quando se pensa na segurança do paciente, é a esterilização de materiais cirúrgicos. Por isso, o hospital comprou autoclaves ecoeficientes, e passou a economizar 100 mil litros de água por mês nesse processo.

Então, com toda a prática de redução de consumo de água, o hospital que utilizava em 2010 o total de 43 mil m³ de água, hoje consome 23 mil m³.

Outro case de sucesso que foi aplicado recentemente no hospital é a reciclagem das mantas de SMS dentro do centro cirúrgico, garantindo o encaminhamento ambientalmente correto dessas mantas. “O problema é que antes, grande quantidade de material de uso único era descartado junto com o material reciclável. Então, desenhamos um hamper partido ao meio, e colocamos um saco de papel embaixo. Esse hamper vai para dentro das salas cirúrgicas no momento da montagem, exatamente enquanto estão abrindo os pacotes. A partir do momento que se inicia a operação, o hamper sai da sala para que as pessoas, enquanto estão desenvolvendo alguma atividade, não contaminem esse material que era limpo de alguma forma”, afirmou Marques.

Então, quando esse material sai da sala de cirurgia, ele é levado para um abrigo e ensacado como material de reciclagem, que, em seguida, é transformado em pellets de polietileno e é reutilizado.

Esse projeto foi implantado em junho de 2015, com a meta de reduzir sete quilos de resíduo gerados pela cirurgia. Hoje, a metade do lixo da cirurgia é reciclada, resultando em 27 toneladas de material que foi para a reciclagem, porque não estava contaminado.

“Hoje aprendemos que juntos somos mais fortes. Se todo mundo se engajar e abraçar o projeto, com certeza ele será um sucesso.”

Desenvolvimento profissional de equipes

Quando o Hospital do Coração (HCor) começou a enfrentar problemas na área de limpeza, com baixa produtividade e alto retrabalho, ao fazer a análise das causas, Katia de Assis Raimundo, Coordenadora de Operações do Hospital, e sua equipe, perceberam que a mão de obra era a parte mais crítica do processo.

Então, com o propósito de oferecer um plano de treinamento diferenciado para as equipes, o HCor fez uma parceria de sucesso e realizou um projeto de blended learning, de treinamento presencial com game, que ficou conhecido como “gameficação da limpeza”.

Nesse treinamento, o HCor convidou uma Engenheira Química que mostrou para os profissionais de higiene qual era a diferença entre limpeza doméstica e limpeza hospitalar. Eles tiveram a oportunidade de criar um produto com cor, cheiro e espuma, e entender que um produto a base de água e sal, sem esses componentes, funciona da mesma forma, por tanto que tenha o ativo reagente.

Após esse treinamento, a equipe realizou uma avaliação personalizada pelo computador, através de um game de perguntas e respostas, em que o profissional se via dentro de apartamentos e outras áreas do hospital que trabalha diariamente, e identificava qual o processo de limpeza era necessário aplicar em cada ambiente.

Dentre as perguntas, por exemplo, o profissional de higiene precisava informar o que ele faria se encontrasse um alimento no apartamento? Ele comeria; jogaria no lixo; ou levaria para casa?

Após essa avaliação personalizada, foi possível identificar os pontos fracos para treinamento específico, e fazer uma auditoria pós-treinamento teórico com prática em local de trabalho.

Além disso, depois de implantar o game, segundo Assis, o hospital teve uma queda das queixas de limpeza e aumento da pesquisa de satisfação dos funcionários, sendo que em poucas semanas, o HCor saiu de 11,8 reclamações/mês no quesito limpeza, para 5.

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