Mudança bem-vinda

Conheça o edifício da nova escola da Fundação Bradesco, em Osasco, que após projeto de retrofit, abandona o clima corporativo e se transforma em ambiente educacional aberto e despojado

Por Larissa Gregorutti

Edifício antigo, de 1970, até então ocupado pelo Bradesco Vida Previdência (BVP), foi o escolhido para ser o novo prédio do Ensino Médio da Unidade Escolar de Osasco I (SP), a escola mais antiga da Fundação Bradesco (inaugurada em 1962).

Isso aconteceu após o setor administrativo ser realocado, cedendo lugar à Fundação, possibilitando a transformação do empreendimento, antes com clima corporativo fechado, com muita alvenaria e janelas pontuais, para um ambiente escolar aberto, moderno e despojado, projetado para proporcionar a interação entre a comunidade escolar, refletindo na educação através do convívio.

“Nos últimos anos, a Fundação Bradesco vem investindo no aprimoramento do ensino, visando à elevação da qualidade de seu projeto educacional. Entre as iniciativas, destacaram-se o aumento do tempo de permanência dos alunos nas Escolas e a definição de novas diretrizes curriculares. Essas melhorias foram acompanhadas pela readequação da infraestrutura física de todos os prédios da Rede, com o objetivo de atender às necessidades educacionais. O projeto do novo prédio da Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco da Unidade Escolar de Osasco I (SP), a escola da Fundação com a maior quantidade de estudantes matriculados, encerrou esse ciclo de reformas”, pontuou Denise Aguiar, diretora da Fundação Bradesco.

Em busca de um projeto que traduzisse os elevados princípios da instituição, a Fundação pré-selecionou quatro escritórios de arquitetura com bagagem em projetos escolares. A escolha pela Shieh Arquitetos Associados (SAA), escritório com 40 anos de mercado e forte atuação na área da arquitetura educacional, se deu pelo conjunto de ideias desenvolvidas, que teve como proposta aproveitar o máximo possível da estrutura existente, e utilizar recursos construtivos que pudessem dar novo caráter e vida ao edifício.

Segundo Leonardo Shieh, Sócio da empresa de arquitetura “a Fundação deixou muito claro desde o início do projeto que esse edifício deveria ser especial em relação a sua rede de escolas, por isso deveríamos trazer as ideias mais avançadas na área da educação. E por se tratar de uma escola de Ensino Médio, utilizamos uma linguagem e um mobiliário despojado, para propiciar que os alunos passem mais tempo na escola e consigam se desenvolver no contraturno”.

Infraestrutura reformada

Algumas estratégias foram adotadas no desenvolvimento do projeto para transformar o edifício em um ambiente educacional. Dentre elas, estão a inclusão de pré-sombreamento das fachadas para melhor conforto térmico e filtragem de luz difusa nas salas de aulas, adoção de grandes átrios verticais, novas escadas internas, nova passarela de entrada, liberação do térreo inferior como grande pátio e jardim.

As plantas foram organizadas para melhor atender alguns dos desafios impostos em um edifício vertical: com grande fluxo de estudantes e limitação de pátios. Desta forma, as salas de aula foram organizadas nos pavimentos mais baixos – com exceção do térreo inferior, que é dedicado à praça de chegada e refeitório. Assim sendo, o primeiro pavimento foi destinado para acomodar sete salas de aula, enquanto o segundo abriga outras dez, totalizando 17 salas.

As salas de usos especiais foram alocadas no terceiro andar (biblioteca, laboratórios e salas de estudos), tendo em vista que o fluxo nesses espaços é reduzido.

“Conhecido como Playground Educacional, o último pavimento conta, por exemplo, com um laboratório de fabricação digital, que possui uma impressora 3D e um cortador a laser, ferramentas importantes para a geração de conteúdo com inovação. E construímos a biblioteca e a área de estudos em um espaço junto à fachada frontal do edifício – como se a biblioteca se debruçasse sobre a rua e convidasse as pessoas a desfrutarem da instituição”, destacou Shieh.

Para melhor distribuir os ambientes e facilitar a circulação dos estudantes entre os andares, salas de aulas e de usos especiais foram posicionadas nas áreas perimetrais, liberando assim grande porção central de laje, criando pátios apelidados de Praças Aéreas. Para compensar o pouco solo disponível, o edifício ganhou um conjunto de mobiliário e equipamentos estilizados, como pufes, bancos contínuos, nichos nas paredes que se moldam ora como bancos, ora como lousas dentre outros aparatos, com a finalidade de possibilitar a apropriação dos alunos de cada recanto criado nas Praças Aéreas.

O térreo inferior, tratado como Praça de Chegada e Convívio, recebe aqueles vindo da rua ou de van escolar. Para isso, foi necessário abrir o máximo possível de espaço como área livre, acomodando jardins e recantos de utilização. 

Para a contenção do desnível com a rua à frente do prédio o projeto contemplou um jardim escalonado em conjunto com uma arquibancada, integrando átrios externos, cobertos e o refeitório. Com a demolição parcial de dois trechos de lajes frontais, foi possível criar grandes átrios centrais que permitem arejar a verticalidade do edifício existente. Esses átrios, cobertos por sheds de iluminação e ventilação, e abertos lateralmente, também propiciam abundante circulação de ar por ventilação cruzada e por efeito chaminé.

Outro ponto-chave é a correta adequação das circulações verticais. Aproveitando os átrios abertos, foram criadas duas novas e proeminente escadas. Como maneira de garantir o acesso de cadeirantes ao edifício, foi proposta a substituição da passarela em concreto, que era muito íngreme, por uma peça em estrutura metálica que avança adentro do edifício.

Uma nova passarela dá acesso direto ao primeiro pavimento do edifício – que abriga as salas administrativas da escola. Entendendo, assim, que pais de alunos, funcionários e visitantes utilizarão essa passagem em vez da descida por escadaria ao térreo inferior, destinado aos estudantes.

“Em questão de acessibilidade, o edifício atende todos os requisitos exigidos por lei, com elevadores para os andares superiores de uso restrito a portadores de necessidades especiais. A escola também possui banheiros para cadeirantes, carteiras especiais, entre outros itens”, informou Shieh.

Outra questão crítica em escolas, objeto de atenção especial para o arquiteto, é a performance acústica do edifício. Dentro das salas de aula, o professor vive o dilema de precisar das superfícies refletivas para se fazer ouvir, mas também precisa de superfícies absorventes para os ruídos. A solução do escritório foi a adoção de “pistas” alternadas com materiais das duas características, forro de gesso liso ao fundo e forro de gesso perfurado – na direção do professor. Além disso, as paredes das salas de aula, vistas das Praças Aéreas, são peças especiais, com faixa superior de vidro e fresta de circulação de ar com chicane para absorção de som.

O edifício existente, despido de sua alvenaria externa – dá lugar à grandes panos envidraçados – protegidos por uma camada extra de chapa de alumínio expandida e brises.

Afastada 75 cm em relação à fachada existente, a chapa de alumínio expandida, na cor branca, tem duas funções: filtrar a luz direta em uma luz difusa e homogênea de alta qualidade ambiental às salas de aulas, e pré-sombrear o edifício para minimizar o ganho térmico. Evita-se, assim, o contrassenso do chamado “dilema do chá gelado” em que se espera que o edifício ganhe calor para depois tratar de seu resfriamento. Esse sistema da fachada é dividido em módulos articulados, o que propicia uma melhor orientação em relação ao sol, e facilita a manutenção e limpeza.

O sistema de chapa de alumínio expandida é fixado através de estrutura metálica auxiliar que também apoia um piso em grade, que serve de galeria técnica contínua para limpeza e manutenção. Esse interstício entre duas fachadas acomoda também equipamentos, em especial ventilador de insuflamento de ar às salas de aula e tubulação frigorígena, e dreno do ar condicionado. 

“O projeto de retrofit foi concretizado para diminuir o impacto ambiental que ocorreria caso a obra fosse feita integralmente. Soluções como ventilação cruzada, brises e o aproveitamento da iluminação natural foram efetivadas para melhorar o conforto ambiental e otimizar a utilização dos recursos. Além disso, foi instalado um sistema de captação de águas pluviais para uso nos vasos sanitários.”, complementou Aguiar.

Resultado alcançado

Segundo Aguiar, um recente estudo elaborado pelo Royal Institute of British Architects, do Reino Unido, demonstrou o impacto positivo da arquitetura escolar na melhoria do processo de ensino-aprendizagem, além das contribuições para a convivência e a própria autoestima de alunos, professores e funcionários. Neste sentido, ela acredita que “O novo prédio do Ensino Médio da Escola de Osasco I (SP) já desponta como uma referência regional na área da educação”.

Para Shieh, o projeto de retrofit é mais difícil do que o projeto começado do zero, pois é preciso readequar um edifício que todos já conhecem para um uso distinto e com uma especialidade, por vezes, inimaginável. Mas acredita que conseguiu superar às expectativas da Fundação Bradesco na entrega do novo prédio da Unidade Escolar de Osasco I (SP). “Ouvindo professores e alunos, a gente percebe o quão satisfeitos e surpresos eles ficaram com a nova escola, por seu acabamento aberto e despojado, que se destaca das outras unidades da rede”, concluiu.

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