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Propostas para uma cultura sustentável nos edifícios

Especialistas debatem sobre eficiência energética em edifícios comerciais

Por Larissa Gregorutti

É fato que questões ligadas a sustentabilidade ainda são ignoradas por parcela da sociedade, mesmo quando o mundo enfrenta uma forte aceleração nas transformações climáticas, afetando radicalmente o meio ambiente.

O setor de construção civil é um dos que geram maior impacto ambiental. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) apontam que o segmento consome 40% da energia global e é responsável por 30% das emissões dos gases de efeito estufa.

Despertar atenção para esse tema foi o importante papel desempenhado pela Danfoss que realizou no dia 14 de dezembro o Simpósio de Eficiência Energética em Edifícios Comerciais.

Reunindo cerca de cem participantes em São Paulo, o evento possibilitou compartilhar experiências por palestrantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Eletrobras, Green Building Council Brasil, Fundação Vanzolini, Chuff e Associados, Accor Hotels e Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) que mostraram que sustentabilidade também é uma política de ganha-ganha para a economia e para o meio ambiente, em que empresas que adotam soluções na construção dos empreendimentos para minimizar os impactos ao meio ambiente diminuem custos com consumo de energia e de água, por exemplo.

Em um breve relato, acompanhe os principais tópicos levantados pelos painelistas durante suas apresentações.

Na abertura do evento, Julio Molinari, Presidente da Danfoss na América Latina e anfitrião do encontro, destacou o potencial para economia de energia nos edifícios e o papel das empresas nessa discussão: “Estabelecer padrões de performance mínima e promover a utilização das melhores tecnologias disponíveis para o desenvolvimento de edifícios de baixo consumo são alguns caminhos possíveis”.

Para Roberto Lambertz, Professor da UFSC, não é possível ter eficiência energética sem garantir conforto para as pessoas, todavia, é preciso considerar a mudança no sistema elétrico que acontece no setor. Lambertz informou que no passado o chuveiro elétrico era o grande gerador de ponta, principalmente no inverno. Mas agora, no verão, também existem eventos extremos acontecendo no setor elétrico, que é o uso do ar condicionado. Nesse sentido, para melhorar a eficiência dos edifícios é preciso melhorar a eficiência dos equipamentos, aumentando, por exemplo, o índice mínimo de eficiência dos splits, que representa 80% do mercado de ar condicionado segundo o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). Nesse quesito, aponta que “É preciso dar um salto e estar em sintonia com melhores práticas internacionais, o que significa ajustar o plano de metas do Comitê Gestor dos Índices de Eficiência Energética (CGIEE).” E completa: “É preciso lidar integralmente com as várias políticas relacionadas ao edifício. A etiquetagem de edificações, por exemplo, deveria ser obrigatória. Ainda não é, mas é preciso de um plano de obrigatoriedade progressiva para que todos os edifícios possam ser etiquetados. Essa obrigatoriedade, todavia, teria de vir de cima, do Ministério de Minas e Energia. Para isso, precisamos trabalhar e discutir a melhor forma de alavancar a infraestrutura necessária para essa análise, e eu acho que esse evento começa a alavancar as possibilidades de isso acontecer”, conclui o Professor.

Para falar sobre “Programas de Certificação Eletrobras”, João Krause, Arquiteto da divisão de eficiência energética no setor privado da Eletrobras mencionou que, hoje em dia, as edificações consomem mais da metade da energia elétrica produzida no Brasil, por isso, é um setor, que claramente, precisa ser trabalhado. Todavia, o Arquiteto explicou que quando se pensa em trabalhar em uma edificação, é preciso pensar na fase de uso e operação dela. E contou que existem algumas ferramentas disponíveis para a avaliação da eficiência energética: a) a avaliação potencial; e b) o desenvolvimento para avaliação operacional.

“Ao realizar a avaliação potencial da edificação, se está mirando na etapa de projeto ou na etapa de retrofit, ou seja, o que é possível mudar na edificação. Isso faz com que você preste mais atenção nos aspectos do setor, constitua uma envoltória que mantenha uma carga térmica e aproveite bem a iluminação natural sem ofuscamento etc.

Já no desenvolvimento para avaliação operacional, é preciso medir e verificar o consumo, fazendo benchmarkings, comparando sua situação em relação à média do mercado, e a manutenção e operação dos equipamentos no dia a dia”, explicou Krause.

E destacou que o selo Procel Edificações, lançado em 2014 pela Eletrobras prega a melhora dos projetos, redução do consumo da energia elétrica, especificação do plano de eficiência e mudança do paradigma para empreendimentos comerciais, de serviços e públicos. Certificado de alta eficiência, ele avalia também o envoltório, como iluminação e condicionamento de ar baseado no PBE Edifica, mas estabelece critérios adicionais. Até o momento, desde dezembro de 2014 até hoje, são 12 selos obtidos para projetos, e 28 selos para edifícios construídos.

Representando o Ministério de Minas e Energia, o Coordenador de Eficiência Energética, George Alves Soares, destacou a evolução significativa que o Brasil alcançou nos últimos 30 anos em matéria de eficiência energética e as ações futuras. “Quais são as metas do Governo Brasileiro?”, questionou o Coordenador: “Tanto na COP21 como no Plano Nacional de Energia, a meta é reduzir 10% de economia de energia até 2030, o que significa algo como 100 terawatts de economia segundo a estimativa de aumento de carga, ou seja, 10% desse aumento tem de ser atendido por meio da eficiência energética que é a economia de energia”, apontou Soares. 

Além disso, ressaltou ainda a lei sancionada em 2016, que prevê o repasse de cerca de R$ 100 milhões ao ano para o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), que deve alavancar os projetos relacionados à eficiência energética.

Depois das apresentações, os palestrantes responderam perguntas do público. Somaram a eles Felipe Faria, do Green Building Council, e Bruno Casagrande, responsável pela área de negócios da Certificação AQUA-HQE, da Fundação Vanzolini.

De acordo com Felipe Faria, a busca por certificação em 2016 cresceu 30% comparado ao ano anterior, o que mostra um grande amadurecimento por parte dos empresários brasileiros, apesar de um ano em que a crise econômica se acentuou.

Já Bruno Casagrande destacou a importância das certificações e o maior acesso às tecnologias. “O Brasil se equivale em muitos aspectos a países do primeiro mundo quando se trata do uso de tecnologias avançadas nas construções. Existem edificações equipadas com soluções de última geração, mas o País ainda tem dificuldades em ampliar em quantidade o número de empreendimentos que conseguem melhor eficiência energética e desempenho em conforto térmico com a utilização dessas soluções”.

O segundo bloco do Simpósio apresentou casos práticos de como projetos de eficiência energética são fundamentais em setores de alto consumo de energia, como hotelaria e shopping center.

Paulo Mancio, Diretor Técnico de Implantação e Patrimônio para a América Latina da Accor, mencionou que a empresa passa por um momento de transformação e apontou que, em termo de eficiência energética, seu volume de negócios está operando sob um viés mais flexível. “Em nossos projetos não existe mais áreas dos hotéis destinadas a recepção, restaurante, ou centro de convenções. Estamos promovendo produtos mais modulados, on demmand. Ou seja, quando hotéis tiverem uma ocupação eventualmente baixa, podemos usar ele para day care ou para home office. Então, podemos fazer deles pequenos centros de serviços, tornando os espaços mais flexíveis, promovendo eficiência energética a todo momento, já que o empreendimento não ficará sem uso durante sua operação. Afinal, área que não gera receita em um hotel, gera despesa”, destacou.

E pontuou também que em seu bussiness plan, a segunda maior despesa em um hotel é em energia elétrica, sendo que aproximadamente 60% desse gasto é relacionado a ar condicionado. Por outro lado, a climatização é ao mesmo tempo um item importante para o conforto do hóspede: “Por isso, buscamos utilizar e inovar nossos hotéis com equipamentos que utilizam a energia de forma mais racional para se obter um determinado resultado sem prejudicar às suas operações. A tendência é utilizar equipamentos de climatização com maior controle e integrá-los com o sistema de construção. Isso permite uma maior eficiência energética em sistemas de gestão de edifícios por meio do controle de uma única interface. A automação dos sistemas consiste em uma melhor gestão dos hotéis, proporcionando maior conforto aos hóspedes”, declarou Mancio.

Representando o setor de shopping center, João Tiziani, Consultor Técnico da Chuff e Associados e Sócio-fundador da Yield-Control Engenharia e Soluções em Energia, destacou a evolução do setor nos últimos dez anos, quando o País saltou de 350 para quase 600 centros de compras. E ponderou sobre a necessidade de se buscar eficiência energética, ao chamar a atenção para o dado de que o percentual que o sistema de climatização consome de energia em um shopping center varia de 40% a 50% dependendo do tipo de sistema HVAC aplicado, e pode atingir até 60%, dependendo da adequação do projeto. “A climatização é um fator vital na operação de um shopping center, pois além de ter papel fundamental na manutenção do conforto térmico dos consumidores, é responsável pela renovação e qualidade do ar nos ambientes onde passam milhares de pessoas todos os dias. Além disso, após a forte expansão do mercado brasileiro de shopping centers nos últimos anos e com seu amadurecimento, trabalhar para obter maior eficiência no consumo de insumos energéticos na operação significa reduzir o custo operacional do empreendimento, e consequentemente reduzir o custo do condomínio e dos lojistas”, finaliza Tiziani.


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