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A biossegurança é o caminho para a convivência com a pandemia

"... as empresas precisam rever o papel do FM dentro de seus quadros. Vejo uma onda de 'trocas' de equipe por conta de custos..."

Por Fabio Augusto das Dores

​Eu atuava em um grande player na área de Call Center e em novembro de 2019, por conta de uma reestruturação, acabei sendo desligado desta empresa. Eu não poderia imaginar que aquele momento seria um aviso de que o mal do século estava por vir e assolar a todos.

Eu tenho muito networking em diversos segmentos e quando comecei a trabalhar a minha rede de relacionamentos, me deparei com informações sobre um tal vírus chinês na cidade de Wuhan que traria muita dor de cabeça no futuro. Tinha decidido aproveitar de um descanso e voltar a focar na minha recolocação só após o carnaval de 2020. Mas as informações já eram tão evidentes que decidi dar um foco no que estava acontecendo e entender a fundo o Sars-Cov-2. Como possuo muitos familiares ligados à saúde e à política, decidi consultá-los antes de embarcar nesta viagem maluca. E, para a minha surpresa, todas as informações davam conta de que este surto certamente iria virar uma pandemia. Desta forma, comecei o processo para entender este mundo chamado Covid-19. Mas para poder entender e falar de igual para igual com autoridades no assunto, tive que estudar um assunto chamado biossegurança.

Vale ressaltar que a biossegurança é uma área de conhecimento definida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como: "condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente".

Adiantando um pouco os desdobramentos, no dia 26/02/2020 (Quarta-feira de Cinzas), quando foi decretado o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, recebi um telefonema de uma fonte (que hoje está no Centro de Contingência de SP) dizendo que a Covid-19 estava na rua de trás da minha casa, naquele hospital famoso onde ocorreu a enchente de infectados para se tratar. A minha rede de contatos fervilhava. Eu já tinha em mente as questões de biosseguranca que a OMS e a OPAS pregavam. Então, após o decreto da pandemia pela OMS, começou o movimento em prol da biossegurança. Após o total entendimento do vírus Sars-Cov-2 (contaminação, disseminação e proteção), comecei em paralelo a desenvolver um trabalho de divulgação de informações corretas, assertivas e certificadas sobre a Covid-19 para empresas de pequeno porte e associações de classe. E é o que está me mantendo até o momento.

Muitos se viraram para consultorias médicas para se adequar ao momento. Muitos tomaram decisões equivocadas, não se atentaram a algumas questões essenciais dentro dos seus espaços de trabalho. Em resumo, foi uma confusão. Os meses foram passando, as ações foram se desenvolvendo, as vacinas foram aparecendo, mas todos focam na vacina e se esquecem da biossegurança. Vou ser franco e direto. Sem rodeios. Vejo muitos dos meus colegas de FM fazendo previsões futurísticas e na base do achômetro. Também vi relatos de depoimentos de colegas dizendo que receberam um "cheque em branco" para as ações de combate a pandemia.

Agora começam as minhas indagações:

1) Adianta ter o cheque em branco se não sabe usar ou se verdadeiramente tem o conhecimento para este uso?

2) Os meus colegas de FM sabem verdadeiramente o que é de fato o Sars-Cov-2 e suas reais implicações? (A meu ver, muitos não sabem).

3) Os meus colegas de FM sabem do futuro do pós-pandemia? Vejo muitos debates sobre trabalho presencial, semipresencial e home office.

Estas foram só três perguntinhas de um monte que eu posso questionar. Mas o segredo para a continuidade de tudo isso, do futuro das empresas está na biossegurança.

A verdade é que mesmo com a vacinação em massa, o vírus não morre. Ele continuará presente para o resto de nossas vidas. Cabe à ciência desenvolver um método para a convivência com o vírus (Isso mesmo!!! Conviver com ele!!!) e desenvolver um medicamento para o combate as complicações causadas por ele. E a ciência tem feito o seu papel.

Mas algumas verdades têm que ser ditas. A primeira já falei, que é a bandeira da biossegurança. As empresas terão que capacitar os profissionais de FM neste quesito. Não adianta contratar um médico infectologista nos seus quadros. Tem que existir um comitê de biossegurança dentro de cada empresa olhando ao mesmo tempo o interno e traduzindo o externo.

E este comitê tem que ser encabeçado pelo FM da empresa. Pois o FM tem uma amplitude de visão maior do contexto da empresa como um todo (instalações, cultura de convivência, educação corporativa, regras internas, missão, visão, valores etc.) e esta percepção é que irá nortear com certeza e clareza os passos para a efetividade e eficiência da biossegurança.

A segunda verdade que eu falo é que precisamos entender que o vírus não morre. Ele continuará pelo resto da vida. A imunização servirá para que nós seres humanos possamos conviver com ele. Tanto é verdade, que anualmente tomamos a vacina da gripe atualizada. Ou seja, as variantes que surgem são atualizadas anualmente para que possamos conviver com a gripe. É o mesmo sentido. Assim será assim com o Sars-Cov-2. Tomaremos anualmente estas vacinas com suas devidas variantes atualizadas.

A terceira verdade que vos falo é de que as empresas precisam rever o papel do FM dentro de seus quadros. Vejo uma onda de "trocas" de equipe por conta de custos. E também enxergo muitos exageros nas funções de FM. O FM não pode ser mais visto como o departamento da onde tudo que não tem uma função ou procedimento definido, joga-se lá para resolver. O FM é um universo muito maior e precisa ser valorizado neste momento crítico. E somente profissionais experientes são a saída para o início de uma nova era.

A quarta verdade que vos falo é que a biossegurança deve ser tratada seriamente daqui para frente. Do mesmo jeito que fazemos auditoria para o financeiro, compras e demais áreas de uma coAbrafac, Abralimp, dentre outras) devem trabalhar para a criação de um órgão com o foco para a auditoria externa de questões de biossegurança.

E a última questão que venho a colocar é que, para sairmos deste caos sanitário, precisaremos de no mínimo de três a quatro anos. Uma vez que, para atingirmos uma "imunidade de rebanho" sem preocupação de variantes do Sars-Cov-2, o ciclo vacinal precisa ter um giro de no mínimo dois anos. Só assim, estaremos aptos a conviver com o Sars-Cov-2 sem problemas de adoecimento. E até lá, será desenvolvida uma medicação para tratamento. E nesse meio tempo, as vacinas irão cumprir a sua função de imunização corretamente. Portanto, as empresas têm que ter em mente que só voltaremos ao normal mesmo após este duplo ciclo. E vale destacar que teremos no futuro mais surtos, endemias e até pandemias. E o comitê de biossegurança deverá estar apto ao enfrentamento, gestão e combate dos possíveis e futuros vírus que venham a existir. A ciência tem que adentrar ao mundo do FM. É mais uma atribuição que deve ser colocada na mesa, elaborada e operacionalizada dentro de cada corporação.


Fabio Augusto das Dores, Administrador de Empresas, pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios e com experiência de 20 anos na área de FM em grandes empresas. É também Jornalista (MTB 0089993/SP). [email protected]

Foto: Divulgação


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