Notícia publicada em 17 de setembro de 2019
As empresas com operações no Brasil atribuem alta relevância a riscos de incêndio para suas operações, mas é pequeno o número das companhias que já conta com sistemas mais avançados de combate às chamas em suas instalações.
Os dados constam de pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos junto a empresas multinacionais e de capital nacional com mais de 250 funcionários a pedido do Instituto Sprinkler Brasil, entidade sem fins lucrativos que trabalha para disseminar a cultura de sistemas de prevenção e combate a incêndios no ambiente empresarial. Foram realizadas 300 entrevistas telefônicas com o responsável ou que participa diretamente na tomada de decisão de investimentos de sistemas prediais das empresas entre os dias 01 e 28 de maio com margem de erro de 5,7 p.p. em todas as regiões do Brasil.
Os dados do levantamento mostram que 77% das empresas consideram muito importante o risco de incêndio para seus negócios e que 82% dizem ter clareza do impacto que este tipo de ocorrência pode gerar para suas operações.
A pesquisa mostra ainda que 85% das companhias dizem levar em consideração as condições de prevenção a incêndio na hora de contratar um espaço (prédio ou galpão) para abrir unidades de produção ou distribuição.
O discurso, entretanto, não bate com a prática. O levantamento mostrou que das 300 empresas entrevistadas pelo Ipsos, apenas 36% contam com sprinklers (chuveirinhos automáticos para combate às chamas) em suas instalações.
O levantamento mostrou que apenas 14% das empresas entrevistadas dizem contar com sistema deste tipo em todas as suas unidades e 22% declararam contar com o sistema em apenas algumas unidades operacionais.
O uso de sprinklers é maior entre as multinacionais. 48% das empresas estrangeiras, com operações no país, ouvidas pelo levantamento, disseram ter sprinklers em suas operações. Entre as empresas nacionais, o índice é de 34%.
O porte também influi na decisão. O índice de uso sprinklers em empresas com mais de 500 funcionários é de 45%. Entre empresas menores, com 250 a 499 funcionários, o percentual é de 28%.
Gestão
"Os dados mostram que há sensibilidade para o tema, mas as empresas não estão de fato preparadas para enfrentar grandes incêndios, que podem afetar a viabilidade do negócio", diz Marcelo Lima, diretor-geral do Instituto Sprinkler Brasil.
As fragilidades não estão somente nas instalações. A pesquisa mostra que a gestão das empresas ainda não absorveu integralmente o risco de incêndio em seu planejamento estratégico. O levantamento mostrou, por exemplo, que apenas 54% das empresas entrevistadas afirmam categoricamente que contam com plano estruturado de retomada de negócios em caso de incêndio. O índice é de 51% entre as empresas de capital nacional e de 65% entre as empresas multinacionais.
O controle da cadeia de suprimentos também apresenta fragilidades. A pesquisa mostra que 57% das empresas afirmam categoricamente que solicitam planos de prevenção para seus parceiros de negócios e fornecedores de insumos. Neste caso, a prática e adotada de forma mais consistente (59%) entre as empresas de capital nacional que nas multinacionais (51%).
"A maioria das empresas não vivenciou um grande incêndio e isso torna o risco um pouco distante de sua realidade", avalia Lima. Segundo o levantamento, 30% das empresas (a minoria) disseram já ter sido afetadas por um incêndio em sua história. E destas, 46% disseram que o impacto foi baixo e 35% avaliaram como moderado. Apenas 16% dos respondentes disseram que a ocorrência prejudicou as operações e levou à interrupção do trabalho.
O levantamento Ipsos avaliou ainda o perfil de investimentos em sistemas de combate a incêndio nas empresas. De acordo com a pesquisa, 71% dos respondentes gastam exclusivamente o previsto em lei. Apenas 22% investem acima do exigido pelas autoridades. Entre as empresas brasileiras esse índice é de 19%. Entre as multinacionais, sujeitas a controles globais mais rígidos, 35% das empresas investem acima do que prevê a legislação brasileira de prevenção e combate a incêndio.
"O Brasil vem avançando em protocolos para este tipo de risco, mas ainda há deficiências na legislação. Isso explica o investimento maior das multinacionais, que têm que prestar contas aos controladores lá fora", avalia Lima.
A pesquisa detectou que relatos de grandes incêndios não são suficientes para mobilizar as empresas em torno da questão. Apenas 23% das companhias entrevistadas disseram pensar em investir ou em aumentar os recursos para sistemas de combate a incêndio após grandes ocorrências.
Compartimentação e selagem para prevenção
Em uma apresentação recente, realizada na sede do Ibape/SP, Camila Guello, firestop specialist da Hilti do Brasil, enfatizou a importância da compartimentação e selagem para prevenção e combate ao incêndio. "De modo geral o que a compartimentação faz é com que a fumaça fique concentrada no local onde ela se iniciou. A fumaça e o fogo não vão se espalhar. Isso é fundamental em ambientes como hospitais, por exemplo, porque você não tem o tempo de escape das pessoas como se fosse uma edificação comercial ou residencial em que as pessoas conseguem sair rapidamente pela rota de fuga".
O Ibape/SP lançou, inclusive, uma atualização da Cartilha de Prevenção e Combate ao Incêndio no seminário "Vistoria em Sistema de Proteção e Combate a Incêndio", realizado em agosto. O material traz orientações e cuidados para todos os tipos de imóveis e é um importante guia para proprietários, moradores, profissionais técnicos e administradores de condomínios.