Notícia publicada em 29 de novembro de 2018
O ambiente organizacional está sendo reconstruído e guiado por fatores que vão de novos métodos de trabalho a mudanças nos fatores demográficos fortemente influenciados pelas novas tecnologias e pela mistura de gerações que convivem e trabalham em equipe - dos babyboomers aos millennials, e a geração Z, que começa a entrar no mercado de trabalho agora.
As organizações que criam valor estão desenvolvendo os ambientes de trabalho da próxima década, levando em consideração não somente o comprometimento e desenvolvimento de seus colaboradores, mas também a mescla de gerações e a tendência de ter suas equipes distribuídas em diversas geografias.
As áreas de desenvolvimento humano e organizacional precisarão utilizar não só práticas inovadoras como, inevitavelmente, adotarão tecnologias emergentes em prazos bem mais curtos que pensavam.
Ao contrário do que muitos imaginaram, não são as áreas de tecnologia de informação que liderarão este processo nas empresas, mas sim as envolvidas com recursos humanos.
Nunca a tecnologia havia tornado possível integrar, de modo tão simples, qualquer pessoa, em qualquer lugar. Este fato muda o cenário das empresas, impactando dramaticamente a forma como elas trabalham e aumentando o potencial de desempenho e resultados. No entanto, as novidades em processos, ferramentas e formas de reter e desenvolver talentos desembarcam nas áreas de desenvolvimento humano e organizacional, exigindo ação imediata. Sob a perspectiva financeira, as empresas entram em um movimento de desmobilização de ativos. Sejam salas e escritórios, sejam de equipamentos.
A quebra do paradigma da localização física e a filosofia de "usar seus próprios equipamentos" - do inglês, bring your own device (byod) - ainda apresentam desafios que estão sendo pouco a pouco vencidos. Por outro lado, a satisfação pessoal e profissional dos colaboradores é necessária para uma força de trabalho colaborativa, eficaz e com alto desempenho.
Os ambientes digitais de trabalho se desenvolvem rapidamente como resposta a estas tendências, e é inevitável os processos automatizados por robôs. Hoje, comum na manufatura, chegará também aos escritórios e aos postos de trabalho administrativos. Estes são responsáveis por tarefas necessárias que ainda são repetitivas, exigem precisão, ritmo e assertividade. Porém, não criam valor nem para clientes, nem para acionistas.
RPA (Robotic Process Automation) é uma forma emergente das tecnologias utilizadas para automação de processos de negócio - chamados, em inglês, de business process automation ou workflow automation - um conceito de trabalhador virtual baseado em robotização por software - automação - e inteligência artificial - aprendizado.
Embora este movimento seja visto como uma forte tendência pelos analistas, alguns aspectos controversos estão nas mesas de discussão. Segundo a Harvard Business Review, empresas que começam a adotar o RPA prometem que o objetivo não seja trocar pessoas por robôs para demiti-las. Pelo contrário. Falam que a robotização está sendo aplicada no ser humano de forma indevida, com tarefas que podem e devem ser realizadas por máquinas.
"Deixem os humanos usarem seus cérebros onde realmente podem agregar valor", comenta um executivo importante quando o assunto emprego é mencionado. Muitos processos executados em plataformas humanas offshore poderão ser repatriados com segurança, em seus próprios data centers locais. Se isso realmente ocorrer, abrirá novas vagas para profissionais com conhecimento em desenho de processos.
Abrem-se os espaços para os postos de trabalho a serem preenchidos por trabalhadores virtuais especializados e baratos. Não para substituir humanos, mas para ajuda-los nas tarefas onde eles não agregam valor, abrindo espaço de crescimento profissional e satisfação pessoal. No Brasil, com os problemas que conhecemos, ainda teremos muitas discussões já muito conhecidas de que não estamos preparados para as consequências desse movimento. Que a robotização gerará desemprego e que não temos uma estrutura para migrar as pessoas para outras funções. Está na hora de mudarmos essa situação e nos prepararmos definitivamente para entrar no século 21, mesmo com um atraso enorme. Mãos à obra!
Enio Klein é Professor nas disciplinas de Vendas e Marketing da Business School São Paulo
Foto: Divulgação Pixabay