Nosso Entrevistado Especial do Mês é Marcelo Sicoli, Síndico do Centro Clínico Sudoeste, empreendimento com 18 mil m2 de área construída, localizado em um dos bairros mais nobres de Brasília, e que abriga 97 empresas autônomas na área de saúde (médicos, dentistas, psicológos, clínicas de estética etc.).
Há cinco anos como Síndico do empreendimento e corretor de imóveis em Brasília, o profissional é bacharel em Relações Internacionais pela UnB (Universidade de Brasília) com MBA em Marketing pela FGV. Possui trabalhos realizados junto a embaixadas, governos estrangeiros, instituições públicas brasileiras (prefeituras, ministérios, governo federal), associações setoriais e consultor de empresas internacionais e nacionais dos segmentos alimentício, industrial, farmacêutico, equipamentos médicos entre outros, especialmente dos EUA, Japão, Europa e Índia (www.enterbrazil.com). Tem diversos artigos publicados sobre consultoria internacional, pesquisa de mercado, mercado imobiliário e gestão de condomínios.
No bate-papo que o leitor confere a seguir, ele fala dos desafios à frente da gestão do prédio comercial, como os projetos em andamento, que visam otimizar a infraestrutura e os serviços para atender as empresas locatárias.
Poderia compartilhar alguns dados sobre a estrutura do Centro Clínico Sudoeste?
O prédio possui mais de 18 mil m2 de área construída. Temos 97 empresas autônomas na área de saúde (médicos, dentistas, psicólogos, clínicas de estética etc.) distribuídas em 139 salas. São dois pavimentos de salas/lojas, um subsolo inteiro com garagens e um segundo subsolo parcialmente construído onde funciona um estacionamento rotativo.
O prédio foi inaugurado em 2003, e está localizado em um dos bairros mais nobres do Distrito Federal: o Setor Sudoeste. Diferente do que muitos pensam, é um condomínio. Ou seja, com assembleias regulares e administrado por um(a) síndico(a) eleito(a) . Não há um dono único ou acionista majoritário. Sou síndico há seis anos. Meu pai é médico e advogado, por isso somos donos de uma sala.
Quais são os principais desafios à frente da gestão do Centro Clínico Sudoeste?
Temos área de garagem com mais de 150 vagas paradas desde 2010 devido a litígios judiciais com a Construtora. Felizmente, nesta longa e cansativa maratona, que parece que está chegando ao fim, o judiciário brasileiro tem reconhecido o direito do condomínio em cobrar as dividas de condomínio que hoje já superam a casa dos milhões de reais.
A solidão na tomada de decisões e o desinteresse da maioria dos condôminos é uma marca forte. Apesar do belo trabalho desenvolvido, surgiu uma minoria inexpressiva barulhenta e com críticas vazias e sem fundamento sobre alguns aspectos pontuais. Por ser um prédio 100% ligado à área de saúde, não temos uma massa crítica formada para tomada de várias decisões que envolvem conhecimento jurídico, contábil e especialmente de obras e reformas.
Você trabalha com empresas terceirizadas? Quais quesitos são observados na hora de escolher um fornecedor parceiro?
Sim. Mão de obra (limpeza e portaria), manutenção de gerador, manutenção de câmeras, jardinagem etc. Apesar de sermos um condomínio, onde muitas vezes pensa-se em fazer tomadas de preços para serviços e obras e escolher o "mais barato", tenho autonomia para não seguir esta premissa. Escolho fornecedores sólidos com bons serviços prestados em outros edifícios.
Como é formada a sua equipe?
Tenho três funcionários diretos e 11 terceirizados (limpeza e portaria).
Existe algum projeto em andamento referente à melhoria de infraestrutura e serviços do empreendimento?
Em 2018, nosso desafio é renovar todo o sistema de detecção de fumaça e incêndio do prédio que está desativado. Já compramos equipamentos de empresa de Bauru (SP) e contratamos empresa brasiliense para instalação.
A regularização jurídica e várias intervenções em obras necessárias para liberar para uso/venda a área de garagem (150 vagas) abandonada pela Construtora serão um grande desafio para 2018 e 2019.
Nos próximos 10 anos, devemos executar etapas de projeto de arquitetura feito em 2016, que orientará a renovação do prédio como um todo.
Na sua opinião, qual é a importância da atuação do síndico profissional?
Diariamente, vejo que decisões pequenas ou grandes do síndico podem afetar diretamente a vida de toda uma coletividade. A solidão é uma constante, no entanto. Ser síndico demanda conhecimentos tão variados como: engenharia civil, contabilidade, direito, gestão de pessoas, administração, jardinagem, gestão imobiliária, oratória etc. É preciso saber um pouco de tudo.
A administração de um condomínio normalmente é lembrada para envio de reclamações ou quando algo está errado. Aos poucos, conseguimos mudar este estigma. Frisamos que críticas construtivas são bem-vindas, mas que elogiar, identificar as mudanças positivas e comentá-las torna a vida em condomínio mais saudável para todos. Motiva os funcionários, clientes e vizinhos.
Quais benfeitorias foram realizadas nos últimos anos?
Nestes últimos anos, realizamos expressivas melhorias como compra de um gerador de energia em 2015 que atende 100% do prédio (já o usamos por cinco vezes em condições reais!!), sistema de irrigação, construção de vagas externas de garagem, por exemplo.
O mais grandioso projeto até agora diz respeito à troca de mais de 918 m2 de um já corroído policarbonato do pátio central por lona tensionada no primeiro semestre de 2017. Sete toneladas de metal foram removidos e encaminhados para reciclagem. Com os recortes da lona, ao invés de incineração, optou-se por contratar a cooperativa de artesãos do Distrito Federal para confecção de lindas bolsas promocionais do edifício.
O projeto rendeu premiações, certo?
Sim! Em conexão com o feito, ganhamos o prêmio "Ser Humano Brasília 2017" da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) em cerimônia realizada no dia 18 de outubro de 2017. A premiação tem como objetivo reconhecer, disseminar e premiar boas práticas e bons trabalhos acadêmicos que visam a gestão e o desenvolvimento de pessoas no ambiente de trabalho, bem como a responsabilidade social corporativa e o desenvolvimento sustentável. Também, fomos finalistas em evento mundial de demolição (World Demolition Summit) na categoria: "Reciclagem e Meio Ambiente". A premiação aconteceu em 2 de novembro de 2017 em Londres, quando tive oportunidade de rever a vibrante cidade inglesa após quase 20 anos. Há muitas obras em andamento lá e uma interessante fusão de construções antigas e prédios internacionalmente conhecidos pela ousadia e modernidade de seu design como: o "the shard", a "O2 arena" ou "the gherkin" .
No mesmo dia, por coincidência, fomos para a final na categoria: "Best Resources Project by Facilities Management Award" (melhor gestão de recursos em administração predial) em evento organizado pela CIWM , instituição britânica ligada ao tratamento de resíduos em geral. Desta vez, fomos agraciados com um histórico prêmio e um belo troféu!
Fechando o ano, em 7 de dezembro, durante o 3° ENBRASSP em Goiânia, fui o único síndico do Brasil a ganhar o Prêmio Master Síndico 2017, da Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais).
Uma administração de qualidade, seja pela crescente figura dos síndicos profissionais ou de um síndico orgânico como eu, pode trazer projeção nacional e internacional. De Brasília para o mundo, por que não?