O Espaço LarVerdeLar, sede da empresa Controle (que atua no combate de pragas urbanas), é o primeiro edifício no Brasil a conquistar a certificação internacional LEED v4, nova versão lançada pelo USGBC que possui requisitos de sustentabilidade mais rigorosos, fazendo com que os impactos ambientais e sociais associados às construções sejam menores, quando comparados com a v2009.
O empreendimento está localizado em Governador Valadares (MG), cidade conhecida pelas altas temperaturas durante todo o ano, e cuja topografia favorece alagamentos e inundações em épocas de cheia do Rio Doce, passando por longos períodos de estiagem, que constantemente comprometem o abastecimento de água da população.
Tais características somadas ao fato de o terreno estar em uma área residencial (sendo imperativo, portanto, que a nova sede pudesse ser convertida em edificação residencial) nortearam o projeto, que é fruto da parceria comercial entre empresas do interior do estado mineiro: LarVerdeLar, NewFields, Controle Prestação de Serviços, Vanessa Scaff Arquitetura + Interiores, Diego Spreng Arquitetura e Paisagismo, Toca Arquitetura, WAV Serviços Elétricos, Celeste Engenharia, A&F Partners Consulting, Mitsidi Projetos e Tabernáculo Engenharia, além da consultoria em construção de Fernando Carvalho e Bruna Tosetto, arquiteta responsável.
Sua construção foi projetada para reduzir o uso de energia em 88%, otimizar em 74% o consumo de água potável, sem falar que 94% dos resíduos gerados foram reutilizados ou reciclados, ou seja, apenas 6% foi destinado para o aterro sanitário.
O Espaço LarVerdeLar obteve, em maio, o certificado LEED v4 BD+C nível Gold com o somatório de 60 pontos alcançados pelo cumprimento de requisitos de sustentabilidade, organizados em nove categorias.
Especificidades da obra
Esquema de construção das coberturas vegetadas
Os materiais e sistemas construtivos foram especificados de acordo com as estratégias bioclimáticas passivas pretendidas. Alternativamente ao uso do ar-condicionado, foram priorizados a ventilação natural e cruzada, o efeito chaminé, o sombreamento por meio de brises-soleil e a especificação de sistemas de vedação e cobertura com alta inércia térmica. Para as horas fora da zona de conforto definida pela ASHRAE 55-2010, que são em média menor do que 12% do total, foram previstos ventiladores de teto. Para a cobertura do escritório, que pode ser acessada pelos usuários, foi prevista a manutenção de um colchão de ar sob a laje pré-fabricada em vigotas de concreto e blocos de isopor (EPS), seguida por um contrapiso de concreto de 7cm envolto por duas camadas adicionais (acima e abaixo) de 7cm de isopor (EPS), manta asfáltica (impermeabilização) e 20cm de substrato, que recebeu a vegetação para cultivar uma horta urbana. Na cobertura da sala de gerência, substituiu-se a horta por jardim; para a cobertura da garagem, especificou-se telha termoacústica também com cobertura vegetal. Sobre estes dois espaços, a camada de substrato foi de 5 cm.
Disposição dos espaços abertos
Além das coberturas verdes, na área térrea externa há uma parcela significativa coberta por jardins, de forma que 79% da área total do terreno são cobertos por materiais com baixo potencial de absorção de calor e aquecimento da vizinhança. O uso desses materiais evita o fenômeno urbano das Ilhas de Calor, que poderiam elevar entre 1 e 3°C a temperatura do entorno ao edifício (para o período do dia e em comparação às localidades mais afastadas da área urbana). A permeabilidade do terreno é garantida pelos jardins, com área total de 40,2m2, além de outros espaços descobertos, equivalentes a 31% do terreno, com os chamados Espaços Abertos que estimulam atividades ao ar livre e constituem-se como áreas esteticamente agradáveis.
Mapa com localização dos serviços próximos
Vários serviços, tais como restaurante, supermercado, farmácia e igrejas estão disponíveis a uma distância curta do empreendimento, em um raio de até 800 metros. Dessa forma, a caminhada é encorajada e reduz-se a necessidade de deslocamento por automóvel. Há também pontos de ônibus nas proximidades e uma ciclovia na via arterial mais próxima. O espaço conta com bicicletários externos, internos e vestiários, para incentivar o uso da bicicleta por seus usuários, que podem chegar ao edifício pelas ciclovias implantas em suas principais vias de acesso.
Resultados da estimativa do consumo de energia no edifício
Estima-se que o Espaço LarVerdeLar alcance uma economia relativa de 88% no consumo de energia elétrica proveniente da Concessionária de Energia, por meio das estratégias passivas de conforto ambiental, da especificação de controles automáticos para as luminárias e uso de lâmpadas LED de baixa densidade de potência (4 W/m2), além do aquecimento solar de água e a geração de 3426 KWh/ano por meio do sistema fotovoltaico. A comparação considera um modelo de referência com instalações e usos típicos, estabelecido conforme a ASHRAE 90.1-2010.
Resultados da estimativa do consumo de energia no edifício
Outras medidas para otimizar a iluminação no empreendimento incluíram a especificação de materiais de piso, pintura e mobiliário nos interiores com altos níveis de refletância, controle das luzes externas por timer e fotocélula, sensores de presença nos ambientes de circulação, a individualização das luminárias dos postos de trabalho com controles dimerizáveis, além da programação para desligamento automático de todas as lâmpadas dos ambientes internos às 20h.
Como alternativa ao aquecimento da água por chuveiros elétricos ou a gás, foi proposto um sistema de aquecimento solar de água, composto por 2 coletores solares e um reservatório (boiler) de 400 litros, ambos com a Etiqueta Nível A do Procel. O dimensionamento deste sistema considerou a flexibilidade de uso do edifício, que poderá ser ocupado por uma família de até 5 pessoas.
Toda a energia elétrica consumida pelo edifício é proveniente de fonte renovável, sendo 74% oriundos da geração fotovoltaica, composto por oito placas e um inversor que permite a interligação à rede da Concessionária de Energia. Os 26% restantes são decorrentes da aquisição de Certificados de Energia Renovável (RECs), que se configuram como um investimento indireto, na mesma parcela da demanda do edifício, na geração de energia limpa.
Resultados da estimativa do consumo de água potável
O consumo racional de água foi assegurado com estratégias de redução de consumo, presentes no uso peças e metais com baixa vazão, aliados a sistemas que permitem alto rendimento; no paisagismo da edificação, no sistema de irrigação automatizado e eficiente, e no uso de água de chuva. Para acompanhar a performance de gestão hídrica, foi prevista uma rede com 4 hidrômetros para monitorar com detalhes o consumo de água.
Captação e aproveitamento de agua de chuva
Optou-se por usar torneiras com arejadores tanto na cozinha quanto nos banheiros que permitiram reduzir a vazão de água para 3,6 e 1,8 litros/minuto, respectivamente. Também estão instaladas bacias sanitárias com duplo acionamento (Dual Flush) e mictórios secos.
Para o paisagismo, o principal critério para a especificação das espécies vegetais foi sua adaptabilidade às condições locais, exigindo pouca demanda de água e manutenção. Por esse motivo, evitou-se ao máximo forração com grama. Um sistema de irrigação composto por microaspersão no terraço com horta e gotejamento nas demais áreas vegetadas permite reduzir a perda de água por evaporação e promover maior absorção de água pelas raízes das plantas.
Tanto para a irrigação dos jardins quanto para o abastecimento das bacias sanitárias, será utilizada água da chuva. O objetivo dessa medida é poupar a água potável tratada, fornecida pelo abastecimento municipal que demanda grande quantidade de energia e produtos químicos. Assim, é esperada uma captação anual de cerca de 50m3, em aproximadamente 125m2 de telhado, sendo destinados 19% para vasos sanitários e 81% para irrigação.
Rede de monitoramento do consumo água
O controle e medição de consumo de água serão realizados por setor de consumo, e os dados obtidos serão disponibilizados no site oficial do projeto, como forma de informar e conscientizar o público geral acerca do uso racional desse recurso. A rede tem como objetivo a identificação de falhas e vazamentos no sistema, permitindo acelerar sua manutenção.
*H0 a H1 correspondem aos hidrômetros instalados
Gestão de resíduos
A gestão de resíduos para o empreendimento compreende tanto a fase de obra, quanto a de operação. Durante a obra, estabeleceu-se a meta principal de dar destinação alternativa a 70% dos resíduos, evitando seu envio para o aterro sanitário. Os resíduos foram divididos em sete categorias: papel/papelão, plástico, metal, madeira, entulho, comuns e perigosos. Uma parte da madeira foi doada para instituição sem fins lucrativos e a restante destinada à queima em fornos de geração de energia de indústrias cerâmicas da região; 53% do entulho foram reutilizados na própria obra, 46% encaminhados para usina de reciclagem específica de resíduos da construção civil, e 1% doado a entidades filantrôpicas; papel, papelão, isopor, metal e plástico foram doados para o centro de reciclagem do munícipio (ASCANAVI); os resíduos perigosos foram incinerados por empresa especializada; e aqueles que não têm tecnologia de reciclagem disponível e não são perigosos foram destinados a aterros sanitários classe II. Todo o processo de destinação foi documentado.
Para a fase de operação do edifício, os resíduos possuem uma área interna de armazenamento temporário (CATRE), até a coleta feita pelo município ou o encaminhamento adequado. Dentro do edifício há coletores específicos para os tipos de resíduo mais comuns gerados em cada ambiente, sendo eles: pilhas e baterias; resíduos eletrônicos; resíduos perigosos; resíduos comuns (não recicláveis); papelão e demais resíduos recicláveis.
Na obra do Espaço LarVerdeLar houve a preocupação especial em se evitar que os materiais particulados chegassem à rede pluvial pública, contribuindo para o assoreamento do Rio Doce. Foi elaborado e implantado um procedimento específico para controle de erosão e sedimentação de materiais, que inclui: o cercamento do terreno e a proteção dos bueiros com um cordão de contenção; o uso do muro pré-existente como barreira de contenção; a restrição do acesso de veículos ao terreno, como forma de evitar o carregamento de sólidos pelas rodas; a proteção do solo contra o contato da água de lavagem da betoneira; o controle da poeira; a proibição de atividades da obra em vias públicas; o armazenamento adequado do produtos químicos e monitoramento das chuvas para evitar danos nas estruturas de contenção de sólidos.