Por Fernando Gorguet
Especialistas e pesquisas são unânimes em afirmar: o modelo híbrido de trabalho é o preferido por trabalhadores do mundo inteiro, e não é diferente por aqui. Cada vez mais empresas brasileiras (57% delas, segundo estudo do Índice de Confiança Robert Half divulgado em junho) vêm adotando o sistema, e a maioria dos funcionários (67%, segundo pesquisa da PwC e PageGroup Brasil) tem aprovado. Até mesmo comparado com o modelo exclusivamente home office, o híbrido sai na frente, com um levantamento recente da Gallup revelando que quase 60% dos profissionais que poderiam escolher trabalhar somente de casa prefeririam, mesmo assim, atuar em esquema híbrido.
Mesmo que há meses tudo já indicasse que a adoção do híbrido se tornaria inevitável, muitas empresas aguardaram até recentemente para abrir o jogo sobre suas novas práticas e modelos de trabalho. Mas por quê? Quais eram os receios das companhias em relação à adoção definitiva do híbrido?
A verdade é que o caminho até aqui não foi sem percalços. As sucessivas ondas da pandemia de Covid-19 fizeram diversas empresas se acautelarem em relação à volta ao escritório - e anunciar publicamente o retorno no momento errado poderia parecer irresponsabilidade. Algumas companhias fizeram do limão uma limonada, aproveitando o tempo para planejar a volta com mais cuidado e mesmo promover reformas e adaptações em seus espaços físicos: diminuindo e redesenhando escritórios, priorizando áreas de interação e criatividade em vez de estações de trabalho individuais; e também procurando e adotando ferramentas tecnológicas que possibilitam a gestão estratégica desses novos espaços.
Mas algumas questões continuaram: a experiência do colaborador dentro das diretrizes da organização precisou ser pensada para todo um novo modelo; por times integrados envolvendo profissionais de RH e de facility management, por exemplo - e, em um time multidisciplinar, cada um pode ter suas ressalvas. Ainda havia dúvidas quanto a questões trabalhistas; quanto a como fornecer o melhor suporte possível (e fazer manutenção de equipamentos) ao funcionário que está em casa; quanto a qual é o número ideal de dias por semana para reunir as equipes no escritório (se é que esse número precisa mesmo ser estabelecido); quanto a quais são as melhores práticas a se aplicar nesse contexto. A decisão de migrar para o híbrido não podia ser anunciada publicamente sem fases prévias de análise, testes e redefinições.
Desde o início do segundo semestre, porém, temos visto o cenário mudar: com a pandemia melhor controlada e os ajustes necessários já feitos (pesquisas internas junto aos profissionais da casa, realização de pilotos em grupos de teste, ou mesmo a adaptação do formato para se encaixar melhor nos processos e valores de cada empresa), diversas companhias estão vindo a público declarar, oficialmente, como funcionam seus novos jeitos de trabalhar.
O sistema híbrido montado pelo Nubank, por exemplo, e anunciado online, funciona em ciclos de dois meses: a cada sete semanas trabalhando em casa, os colaboradores vão passar uma semana no escritório. A empresa afirma que não espera que essa seja "uma semana de trabalho comum", e sim cinco dias em que o foco serão as atividades que exigem colaboração e interatividade. O modelo também visa, segundo o Nubank, trazer flexibilidade, mantendo o bem-estar e a produtividade das equipes. Quem quiser trabalhar no escritório com mais frequência, porém, também terá essa possibilidade, mediante reserva prévia de estações ou salas de trabalho.
A empresa do segmento de games Afterverse também anunciou recentemente que estreou um escritório com foco em encontros pontuais e imersão na cultura da organização, mantendo o modelo remote first, e visando proporcionar aos colaboradores um espaço para integração, eventos e treinamento. A Stoque foi mais uma empresa que inaugurou um novo espaço físico, flexível e diferenciado - construído em um antigo teatro, fechado há mais de dez anos. Assim como no caso do Nubank, ambas as companhias também contam com suporte de tecnologia para reservas de estações de trabalho e gestão ativa do espaço disponível no escritório.
Com alinhamentos cada vez mais definidos a respeito de como fazer o modelo híbrido funcionar da melhor forma possível para todos, as empresas começam a abrir suas decisões e estratégias a respeito. Deixando claras suas práticas no novo contexto do mercado de trabalho, as companhias podem atrair e engajar os talentos que mais se encaixam na sua cultura e visão de mundo - talentos que, no esquema remote first, podem inclusive estar em qualquer lugar do planeta.
Toda mudança gera receios, mas, inegavelmente, também gera oportunidades. Caminhando em solo mais firme quanto às atuais práticas, as empresas aos poucos param de evitar a conversa sobre seus novos modelos de trabalho - e, em um mundo em que as pessoas priorizam cada vez mais a qualidade de vida associada à flexibilidade e à autonomia, falar sobre o tema é um posicionamento de mercado dos mais relevantes.Fernando Gorguet, Head de Global Sales da Deskbee.
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